16 de jul. de 2017

Roadie Metal Volume I (DVD Duplo)


2017
Nacional

Nota: 9,4/10,0

Tracklist:

DVD 1:

1. VOODOOPRIEST - Juggernaut
2. TELLUS TERROR - Blood Vision
3. DEATH CHAOS - House of Madness
4. KRUCIPHA - Reason Lost
5. DIVISION HELL - Bleeding Hate
6. TRIBAL - Broken
7. NO TRAUMA - Fuga
8. CORE DIVIDER - No War
9. MONSTRACTOR - Immortal Blood
10. VORGOK - Hunger
11. HEAVENLESS - Hatred
12. MATRICIDIUM - The Beating Never Stops
13. FORKILL - Vendetta
14. NINETIETH STORM - Death Before Dishonor
15. USINA - Destruição e Morte
16. CURSED COMMENT - Luftwaffe

DVD 2:

1. ELEPHANT CASINO - Believe
2. SUPERSONIC BREWER - Blood Washed Hands
3. DEMONS INSIDE - Remorse, Infected of Trauma…Remains
4. JÄILBAIT - Take It Easy
5. APPLE SIN - Apple Sin
6. CERVICAL - Arquétipo
7. GALLO AZHUU - Bruxa
8. EXORDDIUM - Heavy Metal
9. MAGNÉTICA - Super Aquecendo
10. BASTTARDOS - Despertar do Parto
11. HELLMOTZ - Wielding the Axe
12. BURNKILL - Cadáver do Brasil
13. FALLEN IDOL - The Boy and the Sea
15. DUST COMMANDO - P.O.T.U.S.
16. RAZORBLADE - Cuts Like a Razor


Contatos:

Bandcamp:


Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


E o Brasil está emparelhando com as tendências de fora, e muitas vezes, novas idéias surgem, mostrando que é possível inovar, mesmo em um cenário árido e ingrato como o do Brasil. E o programa de rádio/assessoria de imprensa ROADIE Metal fez isso, trazendo agora “Roadie Metal Volume I”, que foge do convencional por ser uma coletânea dupla em DVD, com vídeos oficiais de 32 duas bandas do nosso país. Sim, é isso que leram: 32 bandas nacionais!

As 32 bandas vem de várias partes do Brasil, todas elas fazendo as coisas a sua maneira e promovendo um massacre sonoro de seu jeito. E o bom disso tudo é a questão da diversidade, que assim, podemos ouvir e ver o trabalho musical de 32 bandas das mais variadas vertentes de Metal que possa pensar. E sim, todas são muito boas. Mas o interessante é que não existem lyric vídeos, mas vídeos oficiais ou ao vivo de boa qualidade (como é o caso do CURSED COMMENT em “Luftwaffe”, que chega a ter legendas). E o trabalho de cada grupo é ótimo.

Em termos de arte, tudo ficou muito bom, da embalagem em um Digipack ótimo ao encarte com informações das bandas e mesmo a letra das canções. Sim, até nisso ficou diferente e inovador. E mesmo o menu interativo do DVD é muito legal, nos permitindo acessar os vídeos, e ao mesmo tempo, o mini-depoimento feito por cada uma das bandas participantes da coletânea.

Como dito, todas as bandas fizeram ótimos clipes.

DVD 1:

VOODOOPRIEST - Usando o já conhecido vídeo para “Juggernaut”, de seu primeiro EP, a banda mostra uma montagem de cenas ao vivo com a música de estúdio. Muito bom o trabalho, realmente.

TELLUS TERROR - O sexteto carioca lança mão do vídeo “Blood Vision”, uma das melhores canções de seu disco de estréia, “EZ Life DV8” de 2014. Muito bem produzido, o MMS da banda funciona muito bem. Hora devir disco novo!

DEATH CHAOS - “House of Madness” é uma das faixas de seu EP de estréia desses curitibanos insanos, “Prologue in Death & Chaos”, e temos um clipe focado em cenas bem soturnas e perturbadoras de uma mulher atacada por um serial killer contrastando com outras onde o grupo tocando a canção. Um trabalho de primeira, um Death Metal insano.

KRUCIPHA - E o quinteto curitibano bem destruir ouvidos e olhos com “Reason Lost”. Mais uma vez, temos contrastes entre cenas de uma mulher encarcerada e desesperada com a banda tocando. É incrível como o Thrash/Death Metal grooveado do grupo é cheio de impacto, com o uso de percussões insanas, dando ainda mais peso ao som do grupo. A música vem de “Hindsight Square One”, e nos prepara para o disco vindouro do grupo.

DIVISION HELL - Rasgando ouvidos alheios com “Bleeding Hate”, faixa-título de seu primeiro álbum, esses sujeitos optaram por um impacto visual focado apenas na banda, com takes de várias câmeras. Death Metal de primeira, e muito agressivo.

TRIBAL - Outro grupo curitibano que usa de contraste de cenas em “Broken”, entre algumas com a banda tocando e outras bem apavorantes. Technical Death Metal com muitas influências do Djent. É perturbador em termos de visual, e criativo em termos de música. Esta música vem do EP “tribal”, de 2015.

NO TRAUMA – O impacto do Metalcore insano e moderno do quarteto carioca flui em um vídeo com cenas gravadas na cidade do Rio de Janeiro. “Fuga” vem do álbum “Viva Forte Até o Seu Leito de Morte”, e vem para causar comoção nos fãs de Metal moderno.

CORE DIVIDER Outro que usa de cenas de causar certo desconforto naqueles que vão assistir ao vídeo de “No War”. Um Thrash/Death moderno, pesado, muito agressivo e grooveado vindo de SP, vindo diretamente de “Against War I”, disco do grupo.

MONSTRACTOR – E diretamente de Resende (RJ), temos o Sasquatch da região destilando toda sua fúria Thrasher à lá PANTERA em “Immortal Blood”. Usando de cenas da banda tomadas de vários ângulos, o clipe é ótimo, sendo que a faia vem de seu álbum “Recycling Thrash”, se bem que eles vão reciclar seu pescoço com tanta fúria sonora.

VORGOK - Descendo a marreta nos cornos alheios, o quarteto carioca de Thrash Metal old school vem com a agressiva “Hunger”. Outro que prefere o uso de takes de câmera tirados em estúdio, que ficaram ótimos em preto e branco. Essa canção vem do destruidor “Assorted Evils”, disco de estréia do quarteto.

HEAVENLESS - Do Rio Grande do Norte, o trio vem com o insano vídeo de “Hatred”, em que cenas da banda ensaiando se intercalam com outras da vida cotidiana regional deles, mais algumas em protesto contra os poderes desse mundo. Um Thrash/Death Metal furioso vindo de seu disco de estréia, “Whocantbenamed”.

MATRICIDIUM – Diretamente de Santa Catarina, o grupo vem com “The Beating Never Stops”, que estará no vindouro disco do grupo. No vídeo, temos uma estória sendo contada, aparentemente de uma pessoa perseguida e surrada, até ser capaz de revidar. O disco novo promete!

FORKILL - O quarteto carioca vem com uma versão ao vivo para “Vendetta”, de seu primeiro disco, “Breathing Hate”. Percebe-se toda energia do Thrash Metal insano do grupo, com forte referência ao Thrash Metal da Bay Area americana. Um murro na cara dos Rabbit Thrashers do RJ.

NINETIETH STORM - Deathcore de primeira vindo do Espírito Santo. Moderno e insano, com grandes toques de Metalcore aqui e ali, muitos breakdowns, e se percebe que o grupo é criativo em “Death Before Dishonor”, aproveitando-se de takes da banda se alternando com outros que são cenas de guerras. Muito, muito bom mesmo.

USINA - Com “Destruição e Morte”, o grupo santista veio para detonar com seu Thrash Metal grooveado e moderno, inclusive com algumas partes de Rapcore. O clipe mostra cenas da banda em profusão, com outras referenciando os maus tratos a prisioneiros e da ineficiência do sistema penal do Brasil. A música vem do EP “Destruição e Morte”.

CURSED COMMENT - Como dito anteriormente, “Luftwaffe” foi gravada ao vivo, e mostra o trio fazendo um Thrash/Death Metal agressivo e ríspido. Vindos de Ipatinga, a banda promete, e esperamos um disco deles em breve.

Isso foi o DVD 1. Mas segurem as pontas, pois vem o DVD 2 agora.

DVD 2:

ELEPHANT CASINO - “Believe” é uma das faixas do disco de estréia desse grupo mineiro que foca sua proposta no bom e velho Hard Rock/Classic Rock pesado dos anos 70. Cenas da banda tocando em uma paisagem e outras do cotidiano estressante de uma pessoa manipulada por cordas se contrastam bem.

SUPERSONIC BREWER - Os gaúchos desse quarteto de Thrash Metal com muita influência do Southern Rock chegam detonando com “Blood Washed Hands”, uma música com forte acento de Country Rock. As cenas da banda gravado em estúdio estão mescladas a outras da região onde estavam. Eles não erram!

DEMONS INSIDE - A banda do Guarujá aposta seu Thrash Metal com influências de Metal tradicional em “Remorse, Infected of Trauma…Remains”, um vídeo que realmente acaba impressionando com as montagens gráficas feitas nas cenas da banda tocando. É algo bem profissional e chama bastante a atenção, sem falar nas cenas de um ator que aparenta estar perdido em um pesadelo.

JÄILBAIT - A banda de Maceió (AL) preferiu em “Take It Easy” usar o vídeo para mostrar o dia a dia estressante de uma mulher, em termos de trabalho, de tudo. É melhor verem para acreditar, mas acreditem: é uma das melhores produções do DVD em termos visuais. E a banda teve que mudar de nome, hoje se chamando PRISION BÄIT.

APPLE SIN - Vindos de Barroso (MG), o quinteto de Metal tradicional mostra em “Apple Sin” um trabalho visual de primeira, em que imagens da banda tocando em uma casa muito velha se contrastam com outra em que uma mulher de preto tem uma maçã em sua mão. Música de alta qualidade, vídeo idem.

CERVICAL - Vindos de Macaé, na Região dos Lagos (RJ), o grupo detona um Hardcore/Crossover de primeira com “Arquétipo”, faixa título de seu último trabalho. A banda usou um vídeo de cenas exclusivamente focadas na banda, de vários ângulos diferentes. O resultado final é ótimo, tendo a impressão que estamos vendo a banda ao vivo.

GALLO AZHUU - Um puta Heavy Metal sujo com forte conotação Stoner Rock é o que se ouve em “Bruxa”. E o quarteto de São Luís (MA) tem um clipe em que se alternam cenas da banda tocando em algum local arborizado e outras onde mulheres que aparentam serem bruxas encenam seus rituais. Muito, muito bom mesmo!

EXORDIUM - E o quinteto de Metal tradicional de Contagem (MG) vem como “Heavy Metal”, canção vinda de seu primeiro disco, “Sangue ou Glória”. O resultado final é muito bom, pois a sonoridade da música ficou de primeira, e o vídeo é focado exclusivamente na banda se apresentando em um cenário montado.

MAGNÉTICA - Rock’n’Roll de raiz com “Super Aquecendo” é o que esse quinteto de Bebedouro (SP) nos oferece. O vídeo é composto de cenas da banda ensaiando, e o resultado final é bem legal, simples e funcional.

BASTTARDOS - E diretamente do Rio de Janeiro, o trio de Rock’n’Roll sujo e descompromissado chega com a maravilhosa “Despertar do Parto”. A canção é ótima, e o vídeo cheio de cenas que nos tocam, quase que algo no estilo “pai e filho”, muito tocante e bem feito demais. Palmas, que eles merecem!

HELLMOTZ - E o Mato Grosso do Sul tem Metal de primeira, sim, senhor, pois o quartet de Thrash/Southern Metal vem matando a pau em “Wielding the Axe”, todo filmado em um estacionamento e privilegiando tons escuros. Simples, funcional e bem feito, não tem como dar errado.

BURNKILL - O quinteto de Pouso Alegre (MG) vem com a ótima “Cadáver do Brasil”, mostrando vitalidade e peso. As cenas da banda tocando em várias locações de sua cidade são mescladas com outras dos manifestos populares que o Brasil tem tido desde 2013. Thrash Metal intenso e consciente.

FALLEN IDOL - Os mestres do Doom Metal de Arujá (SP) contribuíram com a azeda e crítica “The Boy and the Sea”. A faixa é excelente, e o vídeo mostra cenas da banda tocando com outras em que se vê as covardias feitas com os refugiados sírios, e remete ao menininho morto encontrado em uma praia, uma das cenas mais comoventes dos últimos anos. Ainda existem legendas no vídeo, com a letra da música. E espero que a frase “Se as nações estão lucrando com a guerra, elas devem abrigar os refugiados” faça os conservadores idiotas pensarem bastante sobre o assunto antes de serem anti-Islã!

THE PHANTOMS OF THE MIDNIGHT - Como é bom ouvir esse Dark Metal cheio de belas melodias e aspectos sinfônicos, com belos vocais femininos contrastado com urros e vocais masculinos. E o vídeo de “Nightmare” é muito bom, com cenas da banda tocando com um fundo branco. Ou seja, todo o foco fica apenas no sexteto, o que é uma boa sacada. Mal posso esperar pela chegada do primeiro disco da banda!

DUST COMMANDO - E mais um representante de terras sulistas dá as caras, pois o quarteto de Taquari (RS) vem com o vídeo de “P.O.T.U.S.”, uma pedrada Stoner/Southern Metal grooveada e bem feita, com cenas da banda tocando e outras onde são vistos corruptos jogando com o destino da nação para o próprio lucro. Um belo clipe, bem feito e com um esmaecimento de imagem bem sacado.

RAZORBLADE - Encerrando, temos o quarteto de Heavy/Speed Metal de São José do Rio Preto chegando com “Cuts Like a Razor”. É interessante como toda ambientação é para lembrar alguns aspectos dos anos 80, que ficou bem legal. 

No mais, “Roadie Metal Volume I” é uma iniciativa corajosa, merece aplausos, e que todos possam ver este ótimo trabalho. 

THE CHARM THE FURY - The Sick, Dumb & Happy (Álbum)


2017
Nacional

Nota: 9,3/10,0

Tracklist:

1. Down on the Ropes
2. Echoes
3. Weaponized
4. No End in Sight
5. Blood and Salt
6. Corner Office Maniacs
7. The Future Needs Us Not
8. Silent War
9. The Hell in Me
10. Songs of Obscenity
11. Break and Dominate


Banda:


Caroline Westendorp - Vocals
Rolf Perdok - Guitarra solo
Martijn Slegtenhorst - Guitarra base
Lucas Arnoldussen - Baixo
Mathijs Tieken - Bateria


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Youtube:
Bandcamp:
Assessoria:

E-mail:

Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


Vez por outra, bandas jovens chegam e vão dando logo um cartão de visitas inusitado nos ouvintes: uma autêntica voadora no meio dos cornos, de tanta vitalidade, agressividade e vontade de fazer música, de ser tonar grande e conhecido. E nisso, o quinteto THE CHARM THE FURY, de Amsterdã (Holanda), já chega disposto a não deixar pedra sobre pedra com “The Sick, Dumb & Happy”, seu segundo disco, que acaba de sair por aqui pela colaboração da Shinigami Records com a Nuclear Blast Brasil.

Abrasivo, moderno e cheio de breakdowns e Groove intenso, é evidente a vocação extrema desse quinteto insano, mas sempre com melodias dando um contorno perfeito à música que eles executam. Tentando definir o que se houve: é um som moderno e agressivo, com claras influências de PANTERA de um lado, alguma coisa de Metalcore e New Metal aqui e ali, mas como dito, a vocação do quinteto é de detonar os ouvidos alheios, especialmente daqueles babaquinhas que falam que Metal bom é só de 1989 para trás. É áspero e bem feito, agressivo e com boas melodias, fora que a vitalidade deles é absurda!

Sintetizando: é excelente, abusivamente pesado e decididamente ganchudo!

A produção é do baterista Mathijs Tieken, com retoques dados por Daniel Gibson e Robert Westerholt, mais a mixagem de Josh Wilbur (exceto em “Silent War”, onde foi feita por Stefan Glaumann) e a masterização de Ted Jensen (exceto em “Corner Office Maniacs” e “Silent War”, masterizadas por Brian “Big Bass” Gardner). Tudo pensando em garantir uma qualidade sonora absolutamente soberba e pronta para arrebentar tímpanos não iniciados.

As ilustrações e design são de Robert Sammelin, que fez algo bem fora do convencional. Visualmente, temos foco no amarelo, e nunca pensaríamos que viria um murro desses nos dentes, mas a arte gráfica ficou ótima.

É melhor não tentar rotular o som do THE CHARM THE FURY, pois eles não são convencionais. O trabalho deles é fantástico, com uma sonoridade moderna e abrasiva, mas sedutora devido ao escopo melodioso. Além disso, o talento do quinteto em termos de composição é inegável. Ótimos vocais (a vocalista Caroline Westendorp nos mostra interessantes possibilidades, sendo bem diferente de outras vocalistas de Metal mais extremado), as guitarras de Rolf Perdok e Martijn Slegtenhorst se completam, criando riffs abusivamente insanos e pesados, e solos de bom gosto. E a base rítmica de Lucas Arnoldussen (baixo) e Mathijs Tieken (bateria) é técnica, pesada e concisa, criando ritmos insanos e dando sustento rítmico ao trabalho da banda como um todo.

Chega a ser covardia destacar essa ou aquela canção, pois “The Sick, Dumb & Happy” nasceu para se tornar uma referência para muitos. Mas para começarem, indicamos a ótima e grooveada “Down on the Ropes” e sua pegada ganchuda, recheada de ótimas guitarras e um refrão ótimo; os contrastes de timbres extremos e suaves dos vocais em “Echoes” e sua levada mais cadenciada e azeda (além de solos carregados de “wah-wah”); a porrada abrasiva chamada “Weaponized” e sua levada modernosa e sua base rítmica concisa e técnica (reparem nos backing vocals furiosos); as melodias sob a pancadaria sólida de “No End in Sight” (mais uma vez, guitarras fenomenais); a experimental e intensa “Blood and Salt” (recheada de vocais limpos maravilhosos); a lenta e introspectiva “Silent War” (juro que é estranho uma música assim, uma balada, em um disco desses, mas ela é algo de maravilhoso, cheia de feeling e mostrando como os vocais são extremamente versáteis, usando timbres limpos e acessíveis); a paulada moderna de “Songs of Obscenity” (muitas influências de Metalcore e New Metal se aliam para criar uma massa sonora de impacto, mas dinâmica, onde baixo e bateria estão muito bem), e a ganchuda e envolvente “Break and Dominate”.

Ainda bem que temos acesso a um disco desses, pois o THE CHARM THE FURY chega e conquista com “The Sick, Dumb & Happy”. É a revelação do ano, sem sombra de dúvidas!




R.I.V. - Welcome to Prog-Core (Demo CD)


2017
Selo: Independente
Nacional

Nota: 9,1/10,0

Tracklist:

1. Headache
2. Animal
3. Freaks In Action
4. No… P.A.S.


Banda:


Helbert de Sá - Vocais
Cláudio Freitas - Guitarras
Rodrigo Boechat - Baixo
Ricardo Parreiras - Bateria

Contatos:

Site Oficial: http://www.riv.com.br/
Twitter:
Instagram:
Bandcamp:


Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


Desde o surgimento do experimentalismo no Metal, algo que vem desde os anos 70, mas que se tornou mais comum nos anos 90. Nem sempre isso é muito bem visto (já que o Brasil jaz eternamente sob o jugo do radicalismo anos 80 “cuecão de couro” de muitos), mas é saudável, revitaliza gêneros e permite que todas as vertentes sejam preparadas para novos tempos. Mas alguns levam isso a extremos que não foram sequer cogitados antes, como o RHYTHMS OF VIOLENCE (mais conhecido pela sigla R.I.V.) faz em seu Demo CD “Welcome to Prog-Core”.

Vindos de Belo Horizonte, o quarteto esteve na ativa de 1988 até 1996, quando pararam. Mas o vício de se fazer música é algo que depois que se apossa de nós, não tem jeito. E eis que eles voltaram e estão fundindo Hardcore/Crossover com mudanças de tempo insanas, elementos de vários estilos musicais diferentes em uma mistura extremamente insana que leva Jazz, Progressivo, Death Metal, Grindocre e outras coisas mais. Mas é muito interessante. Soa pesado e agressivo, mas muito diferente do que estamos acostumados.

Para muitos, intragável, mas para muitos mais, o R.I.V. vem em boa hora, para mudar as regras do jogo. E isso é ótimo!

A produção sonora ficou bem crua, pesada e muito azeda. Mas creio que para a loucura criativa do grupo, ela se enquadrou bem, nos permitindo entender o que o grupo está tocando. Mas essa crueza, essa sujeira, parece ser claramente intencional. Vamos ser sinceros: eles estão criando algo novo, logo, nenhuma possibilidade pode ser descartado.

Sonoramente, o R.I.V. é desafiador, ganchudo e encorpado. Óbvio que para muitos fãs no estilo “você não conhece o Manowar” e outros “uga-ugas” da vida, a música do grupo será difícil de ser engolida. Mas para quem conhece o passado e sabe que o futuro é feito pelos diferentes e não pelos clones, sabem que um grupo assim é corajoso e capaz de criar muitas possibilidades!

Muita pancadaria e influências de Hardcore e Jazz se misturam em “Headache”, que ainda possui uns breakdowns e muito peso, com bacteria e baixo mostrando muitas partes diferentes e ritmos quebrados (até chocalhos estão presentes); curta e direta é “Animal”, talvez a mais comportada dentro do Prog-Core do crupo, lembrando bastante o Crossover clássico, com belo trabalho de guitarras; mas a insanidade retorna à toda em “Freaks in Action”, com vocais animais no meio do caos criativo e cheio de mudanças de ritmo, que vão do Grind extremo ao jazzístico sem medo; e ainda insana e bem azeda é “No… P.A.S.”, outra insanidade fora de controle, pesada e uma exibição de ótima técnica de baixo e bateria mais uma vez, sem que vocais e guitarras fiquem para trás.


Preparem-se quando forem ouvir “Welcome to Prog-Core”, porque esses sujeitos vieram para pôr convicções sonoras abaixo na base da bicuda sem dó!

HEAVEN SHALL BURN - Wanderer (Álbum)


2016
Nacional

Nota: 10,0/10,0


Tracklist:

1. The Loss of Fury
2. Bring the War Home
3. Passage of the Crane
4. They Shall Not Pass
5. Downshifter
6. Prey to God
7. My Heart is My Compass
8. Save Me
9. Corium
10. Extermination Order
11. A River of Crimson
12. The Cry of Mankind


Banda:


Marcus Bischoff - Vocals
Maik Weichert - Guitarras
Alexander Dietz - Guitarras
Eric Bischoff - Baixo
Christian Bass - Bateria

Convidados:

René Liedtke - Vocais e guitarras solos adicionais
George “Corpsegrinder” Fisher - Vocais em “Prey to God”
Nick Hipa - Guitarra em “Save Me”
Aðalbjörn Tryggvason - Vocais em “The Cry of Mankind”
Katharina Radig - Vocais


Contatos:

Bandcamp: 
Assessoria: 


Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


Tem dia em que, olhando as mídias sociais, temos a impressão que o Brasil anda cheio de ódio ao futuro quando falamos em bandas jovens. É sempre a mesma frase já se ouviu um milhão de vezes desde os anos 80: “isso não é Metal!”. E sinto muito em dizer aos radicais nascidos após 1990 e se acham anos 80, e até mesmo aos meus colegas de época, mas as bandas jovens são tão Metal como aquelas da época, tão boas quanto. O problema é não se prender ao passado, como muitos fazem com o objetivo de serem visto como fodões por muitos, mas não passam de idiotas. 

Digo isso porque não esqueço o festival de reclamações de “veteranos” bundões quando o nome do HEAVEN SHALL BURN foi confirmado em um show por aqui. Só que o músico principal havia escolhido a banda. Talvez ele tenha ouvido o ótimo “Wanderer”, mais recente lançamento do quinteto alemão, e que acaba de sair no Brasil pela Shinigami Records.

Para início de conversa, esse bando de néscio chorões anos 80 que parece não saber ouvir algo para depois analisar, o HSB não é uma banda de Metalcore (como muitos alegaram), mas sim de uma forma muito pessoal de Death Metal melódico, muito influenciada pela escola sueca de Gotemburgo, com forte ranço moderno, mas bem personalizado. A música do grupo é dinâmica, crua e cheia de energia, cativante e sedutora, e sem fazer esforços, a cabeça começa a balançar por si mesma. É uma banda sensacional e injustiçada por uns linguarudos.

Produzido pelos guitarristas Alexander Dietz e Maik Weichert, além de mixado e masterizado por Tue Madsen, “Wanderer” é capaz de fundir a clareza moderna com a agressividade bruta da música da banda e suas melodias encorpadas, sem perder aquela pegada essencial de peso cavalar. Tudo está no devido lugar, a escolha dos timbres modernos dos instrumentos foi bem feita, de forma a manter o peso e a melodia, mas sendo agressivos.

O trabalho gráfico do disco, tanto na capa como no encarte, é baseado em fotos de paisagens naturais (exceto uma, no final do encarte), uma referência muito clara ao título do disco, e que contrasta com a brutalidade sonora do quinteto.

Em “Wanderer”, o HEAVEN SHALL BURN chega a um nível de maturidade incrível, sabendo aliar todos os aspectos de sua música em formato ainda mais sólido e coerente que antes. Melodia, agressividade, brutalidade e modernidade estão muito bem equilibrados, a dinâmica entre instrumental e vocais é de primeira, e o grupo mostra que realmente pode se tornar uma das pontas de lança dos gêneros mais modernos do Metal. E não é à toa que são tão apreciados por fãs mais jovens ou mais velhos de Metal. E o disco ainda tem uns convidados interessantes: George “Corpsegrinder” Fisher (do CANNIBAL CORPSE) faz vocais em “Prey to God”, o guitarrista Nick Hipa (do WOVENWAR e ex-AS I LAY DYING) mostra sua habilidade nas seis cordas em “Save Me”, Aðalbjörn Tryggvason (do SÓLSTAFIR) faz vocais em “The Cry of Mankind” um cover do MY DYING BRIDE, além de Katharina Radig nos vocais femininos pelo disco inteiro.

Melhores momentos do álbum:

“Bring the War Home” - Uma faixa bem furiosa, ardida como pimento e um coice de mula cheio de mudanças rítmicas fortes interessantes, fora algumas partes bem encaixadas de efeitos eletrônicos. E como baixo e bateria são precisos e técnicos!

“Passage of the Crane” - A vocação mais melodiosa do quintet surge nessa canção, enfocando bem as raízes do Death Metal melódico, com muito peso e um andamento ameno. Destaque para as guitarras, rasgando riffs melodiosos e furiosos, mais algumas passagens introspectivas com vocais femininos.

“They Shall Not Pass” - Andamento ganchudo que empolga o ouvinte, melodias excelentes e uma ambientação moderna perfeita. E como essas guitarras fazem duetos melodiosos à lá IRON MAIDEN, mas logo estão mandando riffs agressivos intensos.

“Downshifter” - Uma carga emocional densa alinhavada por partes melodiosas intensas, belas harmonias e esses timbres urrados perfeitos dos vocais. 

“Prey to God” - Pronto: eles desembestaram na porradaria, criando uma canção veloz, caótica e hiper-agressiva de doer os ouvidos. Nas partes mais lentas, os duetos vocais entre “Corpsegrinder” e Marcus são fenomenais.

“Save Me” - Um começo cheio de melodias que transpiram emoção, seguido de um apocalipse de riffs insanos guiados por Maik e Alexander, fora a insanidade de solos surgindo do meio da muralha sonora criada pelas guitarras. Uma canção variada e perfeita.

“A River of Crimson” - Melodia e agressividade aliadas para criarem uma canção marcante e com pequenos toques de Groove moderno. E novamente, a cozinha de Eric (baixo) e Christian (bateria) rouba a cena.

“The Cry of Mankind” - Essa versão ficou mais seca e agressiva que a original do MY DYING BRIDE, as forçou o HSB a uma direção um pouco mais amena, onde os vocais mostram maior diversidade de timbres. E ficou ótima.

No mais, o HEAVEN SHALL BURN mostra que veio para ficar, para ser grande e em “Wanderer”, mostra-se em seu melhor momento. 

Aproveitem!


AVATARIUM - Hurricane and Halos (Álbum)


2017
Nacional

Nota: 9,0/10,0

Tracklist:

1. Into the Fire / Into the Storm
2. The Starless Sleep 
3. Road to Jerusalem
4. Medusa Child
5. The Sky at the Bottom of the Sea
6. When Breath Turns to Air
7. A Kiss (From the End of the World)
8. Hurricanes and Halos


Banda:


Jennie-Ann Smith - Vocais
Marcus Jidell - Guitarras
Leif Edling - Baixo
Carl Westholm - Teclados
Lars Sköld - Bateria


Convidados:

Edit Dyberg - Vocais em “Medusa Child”
Leif Sundin - Backing vocals em “Into the Fire/Into the Storm” e “Road to Jerusalem”
Stefan Berggren - Backing vocals em “The Sky at the Bottom of the Sea”
Anni Sundqvist - Backing vocals em “The Sky at the Bottom of the Sea”
Alvin Dyberg - Backing vocals em “Medusa Child”
Michael Blair - Percussão


Contatos:

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Bandcamp:
Assessoria:


Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


Alguns músicos são tão viciados em trabalho que não conseguem para quietos por um instante que seja. Mas alguns como o lendário baixista Leif Edling são tão criativos que só sua banda principal, o monstro CANDLEMASS, não é suficiente para se expressar. E mesmo tendo lançado este ano o ótimo primeiro disco do THE DOOMSDAY KINGDOM, lá vem ele de novo com o AVATARIUM, que lança seu terceiro álbum de estúdio, o ótimo “Hurricane and Halos”. E a parceria entre a Nuclear Blast Brasil e a Shinigami Records nos brinda com a versão nacional do mesmo.

O quinteto tem um foco um pouco diferenciado, onde o estilo deles tem mais a ver com Stoner Rock que com Doom Metal, tendo momentos bem experimentais (uma ouvida em “Road to Jerusalem” mostra claramente o que quero dizer), e ao mesmo tempo, esse enfoque do grupo lhes dá um toque de acessibilidade interessante, graças às belas melodias criadas pelas guitarras e vocais, fora o belíssimo vocal de Jennie-Ann Smith se assentar perfeitamente sobre o instrumental denso do grup, ora mais melodioso, ora mais agressivo. E juntamente com a base rítmica sólida e bem feita do grupo, se constrói uma identidade musical única.

E sim: “Hurricanes and Halos” é um disco muito bom.

A sonoridade montada para “Hurricanes and Halos” é ótima, sabendo associar as melodias do grupo com o som duro e pesado do instrumental, e sem deixar de soar claro. Tudo bem feito, mostrando que Marcus Jidell (guitarrista do grupo) acertou na produção, e que os esforços de David Castillo (gravação e mixagem), e de Jens Bogren (masterização) renderam frutos muito bons. Tudo soa como deve ser em todo o disco.

E para um disco desse tipo, a arte de Erik Rovanperä e Beatrice Edling ficou ótima, com uma capa bem chamativa e psicodélica.

O grupo soa elegante, melodioso e pesado como o inferno. É como se tivéssemos um contraste de luz e sombra permanentemente, ou seja, sempre criativo, com partes mais grandiosas e outras mais interiorizadas, com belos arranjos musicais em todos os pontos.

Fascinantes são as oito faixas do disco, mas os destaques vão para a pesada e trovejante “Into the Fire/Into the Storm”, cheia de um clima psicodélico interessante, refrão de primeira, e um peso abusivo no baixo e na bateria; o peso melodioso e cativante de “The Starless Sleep”, mais uma vez com belíssimos vocais; a carregada e intensa “Road to Jerusalem” e seus belos contrastes de momentos pesados e outros mais introspectivos, fora toques experimentais e certa influência de World Music (reparem nas percussões no fundo); a sombria e introspectiva “Medusa Child” cheia de partes dissonantes e com mais influência de Doom Metal presente nos riffs de guitarra perfeitos e nos teclados sombrios; a psico-pegajosa “The Sky at the Bottom of the Sea”, onde a psicodelia e peso do Stoner Rock são evidente, belos teclados e mais uma vez, as guitarras despejando riffs ótimos e solos melodiosos; e a lindíssima instrumental “Hurricanes and Halos”, onde toda a versatilidade musical do quinteto fica evidenciada.

Se ainda não conhece o AVATARIUM, eis uma boa oportunidade. E sim, o disco é bom pra caramba!