5 de nov. de 2016

LACERATED AND CARBONIZED – NarcoHell (Álbum)


2016
Nacional


Tracklist:

1. Spawned in Rage
2. NarcoHell
3. Bangu 3 
4. Severed Nation
5. The Urge
6. Broken 
7. Terminal Greed
8. Condition Red
9. Ruinous Breed
10. Decree of Violence
11. Parallel State
12. Hell de Janeiro
13. Mass Social Suicide


Banda:


Jonathan Cruz – Vocais
Caio Mendonça – Guitarras 
Paulo Doc – Baixo, backing vocals
Victor Mendonça – Bateria


Contatos:



Nota:

Originalidade: 10
Composição: 10
Produção: 10

10/10

Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa, terra do Cristo Redentor, do Pão de Açúcar e das praias ensolaradas, onde mulheres lindas e de corpo escultural tomam sol em biquínis minúsculos.

Eis a visão que é vendida dessa terra para turistas e todo o exterior.

Mas por trás dessa cortina ilusória, estão ocultos do mundo o caos de um sistema corrupto e falido, com políticos de digladiando em arenas virtuais nas telas de TV, em um reality show de ofensas planejadas, em uma encenação, enquanto eles vencem, e o perdedor é o povo. O caos social causado pelas desigualdades, as guerras entre o poder público e o poder paralelo do crime organizado, onde as vítimas são inocentes de todos os lados. Imperam o crime, a fome, a dor, a falência da moral sob as bênçãos das telas de TV e computadores. Morre o ensino público, e com ele, a possibilidade de jovens que caem no crime terem uma opção, e morre a saúde pública, asfixiada pela tríade “samba, futebol e carnaval”...

Parafraseando o eterno mestre Millôr Fernandes, “desconfio de todo idealista que lucra com seu ideal”, logo, é preciso saber ser crítico diante disso tudo.

Ao turista, a Cidade Maravilhosa; e ao cidadão carioca, resta a cidade esfacelada que pode ser chamada de Hell de Janeiro, Inferno nosso de cada dia de todos os cariocas e fluminenses, algo que nem mesmo o poeta renascentista Dante Alighieri conseguiria conceber em seu primeiro volume de “A Divina Comédia”. Mas o LACERATED AND CARBONIZED leva todos estes temas aos extremos em seu novo disco, o aguardadíssimo “NarcoHell”, e reescreve tal clássico em um formato extremo.

Para quem acompanha a banda nesses mais de dez anos de carreira, sabe o quanto eles evoluem de um disco para outro. Se em “The Core of Disruption” eles já davam sinais que iriam mudar as regras do jogo com sua música, “NarcoHell” é a formalização de sua evolução.

Maduro e muito bem trabalhado, mais ainda assim bruto e agressivo, o álbum veio ao mundo para mostrar que o quarteto soube burilar as idéias, usar de experimentalismos bem sacados (como alguns teclados em “Severed Nation” e elementos percussivos em “Paralel State”), adicionar de alguns solos de guitarra, e ter como alinhavo uma elegância técnica muito boa. Mas isso não fez com que eles abrissem mão de sua personalidade brutal já delineada desde “Homicidal Rapture”. Não, aqui há evolução, algo natural que só aumentou ainda mais o quilate do trabalho deles.

Preparem os pescoços, os ouvidos e a mente, pois “NarcoHell” veio para pôr o Death Metal brasileiro de pernas para o ar!

Gravado no estúdio HR, tendo a produção de “NarcoHell” feita por Felipe Eregion em parceira com  quarteto, e a mixagem e masterização realizadas por Andy Classen no Stage One Studio em Borgentreich (Alemanha), a sonoridade do álbum é perfeita. O equilíbrio entre brutalidade, peso, agressividade e clareza atingiu um patamar muito elevado, nos permitindo a total compreensão de tudo que a banda faz musicalmente.

A arte da capa, por sua vez, retrata elementos cada vez mais cotidianos do Inferno de Janeiro, aquela mesma realidade complexa e decadente retratada no início deste texto. É um trabalho ótimo do baterista Victor.

Podemos afirmar que “NarcoHell” é uma porta que nos permite acessar uma nova realidade para o Death Metal: aquela que nos leva ao futuro, com o estilo mantendo sua essência, mas com uma identidade latina sensível. O LAC está expandindo fronteiras sem dó dos mais puritanos, e isso tem ainda o brilho especial das presenças ilustres de Mike Hrubovcak (do MONSTROSITY) nos vocais em “Broken”, e de Marcus D’Angelo (o insano vocalista do CLAUSTOFOBIA) nos vocais do refrão de “Bangu 3”.

Não, não há “melhores momentos” em “NarcoHell”, esqueçam. Ele está extremamente homogêneo nas treze faixas que estão nele. É pôr para tocar e deixar, sem pular faixas. Mas para dar uma referência ao leitor, cito algumas:

“Spawned in Rage” – O disco abre com uma mostra de brutalidade musical explícita, uma faixa típica do LAC, mas com a diferença que os arranjos musicais estão em um grau de minimalismo bem elevado. E existem partes com toques de Groove e é um ataque massivo de guitarras abusivamente agressivas, inclusive com um solo muito interessante (Caio está fantástico no disco inteiro).

“NarcoHell” – Outra faixa bem característica do quarteto, mas cheia de variações rítmicas, ótimas viradas, bumbos bem trabalhados e o baixo presente. E assim, a sessão rítmica da banda se destaca, pois mostra uma técnica e entrosamento insano, com peso e técnica enormes. Paulo e Victor se entendem perfeitamente. 

“Bangu 3” – Aqui as algumas diferenças sutis na evolução do quarteto estão evidenciadas, pois a brutalidade explosiva da banda ganha detalhes técnicos interessantes, e um Groove interessante no refrão. Óbvio que a voz de Jonathan evoluiu muito, pois seus timbres guturais estão mais normais, e o contraste entre a voz dele e a de Marcus D’Angelo é ótimo.

“Severe Nation” – O experimentalismo da banda já aparece com mais evidência, devido ao lado técnico da banda, com a presença de tempos quebrados ótimos. E se perceberem, existe alguns toques de teclados em momentos mais opressivos, e novamente, solos de guitarra com o uso do famoso “wah-wah”.

“The Urge” – Aqui, podemos sentir algo dos trabalhos anteriores da banda aparecendo, devido à sua identidade. Mas o “outfit” é todo atualizado, com ótimas variações de baixo e bateria, mais a inserção de solos de guitarra melodiosos. 

“Broken” – Os níveis de adrenalina e agressividade da banda chegam às alturas, com uma dose azeda de peso e velocidade. É uma faixa não tão trabalhada em termos técnicos, mas as mudanças de tempo são interessante, isso fora o contraste de vocais nas partes cantadas por Mike Hrubovcak e alguns detalhes bem insanos da guitarra, que encaixaram muito bem sobre a agressividade intensa da canção.

“Condition Red” – A banda usa de tempos que não lhe são convencionais, criando um híbrido entre seu passado e seu presente. E que belo trabalho de guitarras e vocais!

“Ruinous Breed” – Os tempos da música são medianos, permitindo arranjos de guitarra ótimos. E a levada é hipnótica, seduzindo-nos a cada momento, graças ao trabalho ótimo dos vocais mais uma vez.

“Decree of Violence” – Um pouco mais cadenciada e azeda, há muita influência do Thrash Metal em alguns momentos nas partes de guitarra. Ela possui uma vibe mais grudenta, mais acessível em relação ao disco, e por isso, é tão deliciosa de ouvir.

“Parallel State” – Esta é uma instrumental forte e angustiante, cheia de influência de músicas do Brasil. Se percebe isso na bateria mais percussiva e no uso de alguns instrumentos não convencionais.

“Hell de Janeiro” – Cantada em nossa língua nativa, esta música tem um andamento mais lento, todo bem preenchido por um trabalho de primeira de baixo e bateria. E as atrocidades do Inferno nosso de cada dia está exposto, sem nada esconder. Haja pescoço!

Em “NarcoHell”, encontramos um dos melhores discos de Death Metal já feitos no Brasil, sem sombra de dúvida. E os credencia para encarar medalhões do estilo em shows pelo mundo afora.

Sinceramente, o LACERATED AND CARBONIZED não é mais banda que o Brasil possa comportar.