22 de abr. de 2016

BLOOD TEARS - Three Wishes (álbum)


2016
Independente
Nacional

Nota: 9,0/10,0

Músicas:

1. Peace at Last
2. Werther's Fate
3. Ultimate Meeting
4. Eminent Fall
5. My Dearest Scar
6. Jail of Solitude
7. In a Sea of Sadness
8. Still in Tears


Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia


O mix de Metal com influências do Gothic Rock já foi um gênero bem popular dentro da cena. Mas de uns 7 ou 8 anos para cá, parece ter caído em desuso. Mas isso no fundo é bom, pois apenas as bandas que fazem este tipo de linha porque querem e gostam do que fazem continuam. E são essas que fazem a diferença.

Mas é tão bom ver uma banda com essa vocação aqui no Brasil, como é o ótimo trabalho do BLOOD TEARS, de Caxias do Sul (RS), que após Demo CDs e splits, chega com seu primeiro álbum, "Three Wishes".

Pesado, belo e elegante, "Three Wishes" é uma belíssima amostra do que poderíamos chamar de Gothic Doom Metal, onde o peso deve estar aliado a uma estética musical mais refinada. Percebe-se a influência de nomes como o MY DYING BRIDE e THEATRE OF TRAGEDY em suas fases mais seminais e criativas, mas o grupo tem personalidade. E muita, para ser sincero.

A banda não se furta do uso de vocais rasgados e guturais quando lhe convém, nos momentos mais agressivos. Mas ao mesmo tempo, existem momentos mais climáticos, onde o vocal limpo domina, outros em que são mais sussurrados, e ainda temos a presença de vozes femininas aqui e ali. Óbvio que as guitarras são de alto nível, baixo e bateria são bem entrosados na base rítmica, e os teclados estão muito bem encaixados, mas não sendo meros coadjuvantes, mas parte importante do todo.

Produzido por Roger Fingle, o disco possui uma sonoridade mais seca, priorizando alguns timbres mais azedos nas guitarras, mas ao mesmo tempo, todos os instrumentos estão claros e audíveis. A clareza está em bom nível, e a crueza faz parte do trabalho em si.

Basicamente, Earth cantou e tocou quase tudo em "Three Wishes", mas há a participação de vários músicos em algumas faixas, como Malthus na bateria, Rodrigo Boz na guitarras, Arntor nos teclados, Daniehl Tears no baixo e vocais, Fernanda Ishida nas guitarras e vozes faladas, e Myth nos vocais extremos e guitarras.

E em termos musicais, a criatividade impera, trazendo aquela aura melancólica sombria que envolve o ouvinte a cada segundo, mantendo-o preso à banda. Cada arranjo é belo, cada segundo é precioso.

Melhores momentos em um disco desses seria algo leviano de ser falado. Mas apenas para referência, a bela e introspectiva "Werther's Fate" (com seu jeitão meio Doom e meio Goth de ser, com belos vocais limpos); a força do lado mais agressivo dos vocais em "Ultimate Meeting" (mesmo com a beleza dos teclados atmosféricos aqui e ali, e o peso de riffs excelentes); a criatividade agressiva e soturna de "Eminent Fall" (belo trabalho de guitarras); a beleza instrumental contrastada por vocais rasgados e outros normais em "My Dearest Scar", que tem uma beleza triste e deliciosa; e o peso mais agressivo que a soturna e climática "In a Sea of Sadness" carrega, com um trabalho bem legal de baixo e bateria.

No mais, o BLOOD TEARS é uma excelente banda, merece aplausos, e que continue este trabalho tão bom que ouvimos em "Three Wishes".


Banda:

Earth - Vocais, vocais limpos, guitarras, baixo, teclados


Contatos:



WITH THE DEAD - With The Dead (Álbum)


2016
Importado

Nota: 10,0/10,0

Músicas:

1. Crown of Burning Stars 
2. The Cross 
3. Nephthys 
4. Living With the Dead 
5. I Am Your Virus 
6. Screams from My Own Grave


É muito interessante notar que músicos, mesmo após aposentarem suas bandas, parecem ter o bom e velho "bicho carpinteiro" em si de tal forma que eles se recusam a ficar parados. Morre uma banda, e logo eles voltam com outra.

E esse é o caso do trio inglês WITH THE DEAD, que se levantou do túmulo e concedeu ao mundo o seu primeiro disco, o ótimo "With The Dead".

Para quem não sabe, este é o novo trabalho de Lee Dorrian (conhecido amplamente por seus trabalhos com o NAPALM DEATH e CATHEDRAL), que se uniu a Tim Bagshaw (ex-baixista do ELECTRIC WIZARD) e ao batera do RAMASSES, Mark Greening. Creio que fica óbvio qual o estilo do grupo: Doom Metal na sua mais azeda e bruta forma de ser. Sim, é sinistro, azedo e melancólico nas medidas certas, com uma sujeira instrumental que é proposital, mas sem que a qualidade do grupo fique oculta. E digamos de passagem, o resultado é excelente.

A produção é de Jaime Gomez Arellano, que já trabalhou com nomes como o próprio CATHEDRAL, além de GHOST e ANGEL WITCH. O som é ríspido, cru e abrasivo, mas orgânico, mas ao mesmo tempo, conseguimos compreender o que a banda está tocando sem problemas. Ou seja, eles conseguem equacionar a crueza instrumental com uma qualidade sonora ótima de forma bem satisfatória.

Mas o que esses músicos tão tarimbados podem oferecer aos fãs do gênero?

O WITH THE DEAD não é uma banda com pretensões de revolucionar nada em termos musicais, e talvez por isso seja tão bom. A espontaneidade é sensível em cada segundo de música, nada é forçado.

A fusão da voz crua e azeda de Lee, mais os riffs sujos e criativos de Tim (bem como seus solos melodiosos), mais o peso da base constante de Tim (sim ele tocou baixo no disco) e Mark é capaz de dar aquele sopro de vida ao gênero, já desgastado pela overdose de bandas que nada possuem a dizer, aquelas que ficam na linha entre o bom e o regular. E aproveitando-se de sua liberdade de criação, o grupo criou seis músicas ótimas, todas com excelentes melodias, e que duram em média entre seis e sete minutos (sem cansar nossos ouvidos).

O disco abre com a ótima "Crown of Burning Stars", azeda e cheia de um feeling melódico denso, recheado de belas guitarras. Em "The Cross", o andamento ganha um pouquinho (só um pouquinho!) de dinâmica e groove, mas o peso é avassalador, mostrando que mesmo na simplicidade, baixo e bateria podem mostrar um toque de refinamento técnico que nos permite não ficarmos empanzinados. As lições do BLACK SABBATH ficam mais evidentes em "Nephthys", com aqueles riffs de guitarra pesados e cheios do feeling criado por Mr. Iommi, embora o contraste entre a voz forte de Lee e as guitarras de Tim seja muito interessante. E tais elementos tornam a aparecer muito bem em "Living With the Dead", que é soturna, mas recheadas de melodias sinistras no meio da base peso pesada de Tim e Mark, que mostra algumas variações muito interessantes. "I Am Your Virus" mostra alguns toques um pouco mais experimentais pela presença de efeitos sonoros sinistros, contribuindo para que a aura sinistra que permeia o disco continue constante, mais uma vez com Lee mostrando excelente forma. E em "Screams from My Own Grave", vemos que o trio é capaz de criar aquela mesma atmosfera sinistra e densa que os filmes da Hammer Film Productions fazia, devido ao andamento lento e aos riffs abusivamente climáticos e aos vocais bem trabalhados.

E merece uma versão nacional, nem que seja por um crowdfunding apenas para os interessados.

Excelente banda!

Em tempo: depois da gravação, se juntaram a banda o baixista Leo Smee e o baterista Alex Thomas.


Banda:

Lee Dorrian - Vocais
Mark Greening - Bateria, Hammond 
Tim Bagshaw - Guitarras, baixo


Contatos: