24 de jan. de 2016

BLACK SABBATH - The End (EP)


2016
Independente
Importado

Nota 8,5/10,0

Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia

Destaques: Seasons of the Dead, Cry All Night, Take Me Home, Isolated Man.


E os pais do Heavy Metal se preparam para sua despedida...

Sim, depois de mais 50 anos de atividade, o BLACK SABBATH anuncia sua última tournée mundial. Mas existia, na época do anúncio final da excursão em si, certo sentimento de amargura, pois a banda iria parar sem deixar um último disco, aquela despedida essencial. Mas para sanar isso, eis que o quarteto promove o lançamento de "The End", que será vendido durante os shows.

O que temos aqui é uma sobra das gravações de "13", ou seja, continuamos com a bateria de Brad Wilk (conhecido por seus trabalhos com AUDIOSLAVE e RAGE AGAINST THE MACHINE) como músico convidado. O estilo não mudou: é apenas o mesmo BLACK SABBATH de seus tempos iniciais, mais azedo e pesado. O que diferente um pouco dos resultados de "13", que causou polêmicas na época, é que a banda está com músicas bem mais inspiradas, realmente honrando seu passado. Nada exagerado no lado técnico, apenas sombrio, direto, soturno e pesado.

Black Sabbath (esquerda para direita: Bill, Tony, Ozzy, Geezer)
A produção, como se sabe, é de Rick Rubin. E a timbragem que ele usou descaracterizou um pouco a sonoridade característica das guitarras de Tony e do baixo de Geezer (favor, não confundir sonoridade do instrumento com a forma do músico tocar). Mas parece que, devido a serem sobras, estas músicas não foram tão polidas assim. Elas estão soando mais cruas, o que deu muito certo para o BLACK SABBATH. Se não está perfeito, está um trabalho ótimo (ou seja, quanto menos Rick Rubin mexer, melhor será).

Como dito acima, podemos dizer que "The End" se encaixa bem no estilo mais direto e pesado dos primeiros discos do grupo, a fase entre "Black Sabbath" e "Master of Reality", onde grupo ainda não se encontrava fazendo os experimentalismos técnico-musicais como visto entre "Vol. 4" até a saída de Ozzy. Direto e azedo, com ótimos refrões, se "13" tivesse sido assim, talvez o resultado pudesse ter sido bem melhor. Ou seja, estas quatro músicas mais uma vez provam que Rick Rubin, em termos de produção, precisa reaprender o ofício. Deixá-las fora de "13" foi um verdadeiro tiro no pé.

Season of the Dead - Extremamente lenta e fúnebre, com o canto de Ozzy preenchendo bem a canção e sem tentar alcançar os timbres agudos de outrora. Os riffs de Tony são clássicos, mostrando um lado um pouco mais simples, mas funcional.

Cry All Night - Aqui, temos uma canção com um pouco mais de groove e swing, graças ao trabalho de Tony e Geezer. O andamento não é tão lento, mas é uma canção sinistra e excelente. E o solo mais melodioso casou muito bem.

Take Me Home - Azeda até a alma, Geezer brilha nas quatro cordas em intervenções magistrais. Mas basta ouvirmos alguns toque de guitarra espanhola feitos por Tony que ficaram excelentes, lembrando um pouquinho o experimentalismo do "Vol. 4".

Isolated Man - Uma música tradicionalmente "Sabbáthica", com Ozzy cantando muito bem mais uma vez, e Tony caprichando nos solos. Nem muito lenta e nem muito rápida, com algumas mudanças rítmicas mais simples, mas isso sempre foi uma marca do SABBATH.

Em "God is Dead?", "Under the Sun", "End of the Beginning" e "Age of Reason" são versões ao vivo. Sinceramente, "God is "Dead?" está com uma qualidade sofrível, mas as outras estão muito boas, e as duas últimas estão soando bem melhores que as versões de estúdio (mais pesadas e espontâneas). Uma prova para que todos percebam que o que estragou "13" realmente foi uma produção bem ruim.

Enfim: o BLACK SABBATH se vai, mas sua despedida não é melancólica. É gloriosa, e resta a todos que os conheceram nesses anos agradecer a oportunidade de ouvir sua música, ver seus shows e poder conhecer suas criações. 

Uma queixa bem pessoal desse autor é simplesmente a ausência de Bill Ward nas baquetas nesse último trabalho. Pode ser saudosismo ou mesmo coisa de fã, mas seria um encerramento perfeito.

No mais, ouçam e abusem de "The End".

E muito obrigado por tudo, Ozzy, Tony, Geezer e Bill (e que a Sharon não leia essas palavras).






Músicas:

1. Season of the Dead
2. Cry All Night 
3. Take Me Home 
4. Isolated Man 
5. God is Dead? (Live Sydney, Australia, 4/27/13) 
6. Under the Sun (Live Auckland, New Zealand, 4/20/13)  
7. End of the Beginning (Live Hamilton, ON, Canada, 4/11/14)
8. Age of Reason (Live Hamilton, ON, Canada, 4/11/14)


Banda:

Ozzy Osbourne - Vocais
Tony Iommi - Guitarras
Geezer Butler - Baixo


Contatos:

Wake The Dead Festival (Mageense Futebol Clube - Magé - RJ - 23/01/2016)

Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia


Apesar da semana chuvosa, no dia do Wake The Dead Festival, a noite estava agradável, embora em intervalos uma garoa caísse dos céus.

E mais uma vez, tivemos um cast extremamente eclético, preço bem acessível, e a presença de um bom público. Torcemos para que a arrecadação de alimentos não perecíveis para instituições que cuidam de idosos e crianças abandonadas tenha sido satisfatória.

Realizado na sede do tradicional Mageense Futebol Clube, o festival tem como proposta uma fusão de estilos bem saudável. E como a cidade de Magé vive um pouco afastada, a polícia do "pode-não pode" não tem poder algum, logo, foi uma noite muito boa para beber, curtir  evento e aproveitar boa música com respeito. E mais: não foi registrada uma briga ou confusão.

Talvez isso mostre a potencialidade das cenas fora dos grandes centros do RJ.

A primeira banda a subir no palco foi o NEW DAY RISING.

New Day Rising

Destilando um Hardcore furioso e bem feito, Renato Rasta (vocal), Licco (guitarra), Maycon (guitarra), Caíque Xavier (baixo) e Felipe (bateria) mostraram uma presença de palco muito boa, e não se intimidaram com a tarefa de abrir o evento. Bem à vontade do palco, o quinteto mandou ver. Ponto para Renato, que se comunica muito bem e atiça o público. Músicas como "Killer" deixaram o público bem animado.

New Day Rising

Logo depois, veio o PUMPKINHEAD.

Pumpkinhead

Banda local (sim, eles são de Magé), eles retornam à ativa depois de quase 20 anos parados, destilando uma sonoridade que transita entre o Grunge pesado e denso à lá ALICE IN CHAINS com elementos mais azedos do BLACK SABBATH original, da época de seus primeiros discos. A banda precisa de um pouco mais de estrada para ficar um pouco mais justa, devido ao longo tempo fora da ativa. Mas nada que tenha comprometido a apresentação deles.

Muito, muito bom, apesar da reação do público não ser das melhores por conta do trabalho deles ser bem mais introspectivo e denso.

Outro que está voltando depois de um longo tempo parado é o quarteto SECOND COME, do Rio de Janeiro, que fez um show bem legal.

Second Come

F. Kraus (baixo, vocais), Fernando Kamache (guitarras), Kadu (bateria), e Maurício Mauk Garcia (guitarras) fazem um som realmente mais simples, voltado ao Noise e ao Grunge, mas cheio de energia e empolgante. E é bom ver que, apesar de alguns problemas com o som, a banda não se abateu e fez um show bem legal.

Um bom show, realmente.

Mas a surpresa da noite foi mesmo o quarteto BEEF, do Rio de Janeiro.

Beef
Com boa postura de palco, bem soltos, o quarteto mostrou a força de uma música mais intimista, pois o trabalho deles é um Folk Rock delicioso de ouvir, e que muitos dos presentes realmente gostaram.

Beef
É bem legal ver que o trabalho de Alexandre Marchi e Ricardo Nogueira embala o público, e que se adaptou ao contexto eclético do evento. E como é bom ouvir música assim, e vinda do disco "Live True".

Espero poder vê-los de novo!

Voltando a algo mais cheio de energia, veio a brutalidade do Hardcore do quinteto CONTRA TODOS, de Macaé (RJ).

Usando um "approach" um pouco mais moderno, próximo ao chamado Hardcore Beatdown, a violência sonora do grupo chega a doer os ouvidos dos mais incautos. Mas como é bom ouvir músicas assim, diretas e brutas, vindas do disco "Mãos que Constroem". Liu Heringer (vocais), André Camelier (guitarras), Júlio Cruz (guitarras), Matheus Cruz (baixo) e Adriano Marciano (bateria) ganharam mais fãs após este show, com certeza.

Mais um intervalo para todos poderem respirar um pouco, e o MAIEUTTICA sobe ao palco.

Maieuttica
Cuspindo seu Metalcore moderno e agressivo sobre a platéia, Allan Sampaio (vocais), Frank Lima (vocais), Rubens Junior (guitarras), Lucas Rodrigues (guitarras), Bruno Pinho (baixo) e Rômulo "Grilo" (bateria) fizeram um show com boa movimentação de palco, ótima comunicação por parte de Allan e Frank, que demorou duas músicas para aquecer e levantar o público. A desenvoltura da banda é ótima, e o sexteto se impõe muito bem com músicas como "Transição" (de seu vídeo mais recente). E como se já não fosse muito, Rodrigo Bizoro (baterista/vocalista do SAINT SPIRIT) subiu ao palco e detonaram uma versão bem azeda para "Roots Bloody Roots" do SEPULTURA.

Maieuttica

Ganharam o público e muitos fãs, tenham certeza. E que podem baixar material da banda de graça na página deles no Facebook.

Fechando o evento, veio o SAINT SPIRIT, que vomitou uma agressividade ímpar.

Saint Spirit

O Kraken de Belford Roxo (RJ) não deixou pedra sobre pedra, se impondo com músicas pesadas e bem feitas, uma mistura moderna do tradicional Thrash Metal que a banda sempre fez com um alinhavo DJent, graças ao uso de guitarra com oito cordas.

Rodrigo Bizoro (bateria, vocais), Clamer Lúcio (guitarras, backing vocals), e Daniel Lúcio (do FOLHAS DE OUTONO) fizeram um set bem barulhento, apostando nas músicas do último disco da banda, "Mea Culpa", de 2015, como a ótima "Release the Kraken", "Volt" e "City of Roses" (onde Frank do MAIEUTTICA participou, pois gravou a música com o trio), mas tocaram algumas mais antigas (como "Stupid Holy Nation").

Saint Spirit
Um ótimo evento, que realmente mostra uma nova realidade: a promoção de eventos fora dos grandes centros, que uma vez que estão tão comprometidos com a desunião e vícios antigos, pode ser que estes points e eventos mais afastados, com uma juventude muito boa, a coisa melhore e engrene de vez. Talvez o radicalismo infantil que persiste em atormentar o cenário possa, enfim, acabar.

No mais, parabéns à Allan Aguiar e toda a produção do evento, às bandas, ao público. E sim, Magé deu um show de educação e hospitalidade.

Ah, sim: fotos e vídeos do evento estarão em breve disponíveis no Facebook.