29 de nov. de 2015

A SORROWFUL DREAM - Passion (CD): Criatividade temperada com melancolia

Músicas:

1. Prolusion 
2. Amálgama 
3. Entwined 
4. Silent Words
5. Ephemeral
6. A Lullaby for Lunatics
7. Solo Awakening
8. In Hebetude
9. Only Blood Knows
10. Passion
2015
Independente
Nacional

Nota 9,0/10,0

Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia


Contatos:



Há alguns anos, o estilo que chamamos de Doom/Dark Metal tem andado fora de evidência. Após uma proeminência na metade da década passada, o estilo foi dando uma sumida. Mas isso é bom, pois é quando a maioria que segue por este caminho apenas visa aquele momento para poder ganhar projeção desaparecem. E ficam apenas ou os nomes mais evidentes e antigos, ou aqueles que realmente querem trilhar pelo estilo. Seja qual o caso em que encaixemos o septeto A SORROWFUL DREAM, de Sapucaia do Sul (RS), hoje residente em Porto Alegre (também no RS), podemos sentir a honestidade da banda em "Passion", seu novo disco.

Antes de tudo, é preciso dizer que a banda faz uma mistura de Doom Metal com aspectos do Gothic e do Death Metal, resultando em algo que transita entre o soturno, o melancólico e o belo com extrema espontaneidade. O somatório das influências acima é denominado Dark Metal, embora seja um rótulo que apenas nos dá uma idéia bem superficial do que esta banda pode render. Mudanças de andamento, momentos extremos contrastados por outros mais belos, outros mais climáticos, mas sempre uma surpresa para os nossos corações. 

Produzido por Sebastian Carsin (que ainda mixou e masterizou o disco) em parceria com Ricardo Giordano, a sonoridade de "Passion" é pesada, densa, e até mesmo seca e agressiva, algo que não estamos acostumados a ouvir em bandas do gênero. Mas esta sonoridade mostra o quão diferente o A SORROWFUL DREAM dista de clichês, pois essa dose de agressividade os diferencia da grande maioria de seus pares de estilo. E a arte de Tric Jonathas para capa e layout é ótima, se encaixando como uma luva à proposta sonora/lírica da banda. E esta arte se assenta em um belo formato Digipack.

O grupo apresenta um conjunto de ótimas canções, cada uma delas com suas particularidades, cada uma com seu próprio valor. A riqueza de arranjos é ótima, tudo assentado com cuidado minimalista, mas sem deixar de soar espontâneo. E isso em canções que, contrariando a tradição do gênero, não passam dos 7 minutos de duração.

Não há como destacar valores individuais em termos de canções em "Passion", pois cada uma das 9 canções ("Prolusion" é uma introdução) é preciosa à sua maneira.


Amálgama - Bela e com certa complexidade, alternando vocais em tons mais agressivos que contrastam muito bem com as vozes femininas, esta faixa vai evoluindo de forma harmoniosa. E o uso de trechos em português em meio às letras em inglês dá um toque diferenciado à canção. 

Entwined - Um pouco mais atmosférica e soturna, mas mesmo assim com muitas mudanças de tempo (mesmo mantendo o andamento lento), mas uma beleza melancólica permeia a canção, que mostra guitarras e teclados muito bons. 

Silent Words - Pesada, azeda, mas vibrante e com momentos mais limpos. Esta é uma canção bem soturna, recheada com urros guturais e gritos esganiçados, mas entremeados com belos vocais limpos (tanto masculinos como femininos), e a base rítmica da banda (baixo e bateria) mostra seu valor.

Ephemeral - Outra que alterna momentos mais melancólicos com outros mais pesados. E esse contraste é muito rico, graças à presença de belíssimos teclados, dando aquele fundo melodioso e introspectivo para a exibição de vocais góticos que se alternam com lindas vozes femininas e outros mais agressivos.

A Lullaby for Lunatics - Aqui, mesmo com todo o viés melancólico, o lado mais agressivo da banda está evidente. Vide o uso dos bumbos, mais a pegada pesada dos riffs.

Solo Awakening - Segue a mesma pegada de "A Lullaby for Lunatics", ou seja, a agressividade seca da banda está aparecendo bastante. Há belos momentos mais empolgantes, com o uso de vocais femininos que beiram o operístico em conjunto com vocais mais brutais, sem contar que os teclados estão perfeitos aqui na aclimatação de cada momento.

In Hebetude - Mais melodiosa e introspectiva, existem momentos grandiosos, com riffs e teclados se mesclando de forma maravilhosa. 

Only Blood Knows - A banda consegue mesclar momentos agressivos com forte dose de melancolia, mas sem que algo seja perdido ou soe desconexo do todo. Destaque mais uma vez para baixo e bateria, pois a base rítmica da canção permite ao septeto evoluir muito bem.

Passion - Um fechamento em grande estilo. Aqui, a proposta musical do grupo é evidenciada: melancolia, peso e agressividade, com alternância de belo uso dos teclados com vocalizações ótimas e bem cuidadas.

Em um momento em que o Metal anda tão sufocado por grupos que apenas remixam clichês, é ótimo poder ouvir um disco como "Passion", e esperemos que ele credencie o A SORROWFUL DREAM para vôos mais altos.

Banda:

Éder A. Macedo - Vocais
Josie Demenegui - Vocais
Geovane "Tuko" Lacerda - Baixo
Aurélio Martins - Guitarras
Lucas Vargas - Guitarras, violino
Mari Vieira - Teclados
Ricardo Giordano - Bateria