1 de mar. de 2015

Enforcer – From Beyond (CD)

Nuclear Blast Brasil
Nota 9,0/10,0


Por Marcos "Big Daddy" Garcia


Bem, não é mais novidade a tendência anos 80 em voga nos últimos anos. Ou seja, vemos bandas que buscam resgatar as sonoridades dessa época específica (como existem o que fazem o mesmo em relação aos 60 e 70). Temos dois grupos em que dividimos as bandas que compõem essa turma em dois grupos bem distintos: o de bandas que são apenas Dolly Metal (ou seja, clonagem, sem apresentarem absolutamente nada de novo. Algumas nessa linha chegam a beirar o plágio puro e simples, talvez por falta de personalidade em seus membros), e as bandas que resgatam o passado, mas são capazes de colocar algo que as tornem realmente valorosas, que venham a acrescentar. E é no segundo grupo que encaixamos o quarteto sueco ENFORCER, que pela segunda vez aparece nesse humilde site, dessa vez com seu novo disco, “From Beyond”.

Antes de tudo, é preciso ser claro e honesto: o quarteto pega todos os elementos usados por bandas da NWOBHM como SAXON, DIAMOND HEAD, IRON MAIDEN, mais algo do JUDAS PRIEST e do ACCEPT e faz seu trabalho. O que os difere da geração Dolly Metal é que podemos perceber que existe uma vontade da banda fazer algo relevante, não apenas repetir o que já está feito. Vocais em tons normais muito bons (mas que podem melhorar. Há momentos em que eles destoam um pouco, e acabam incomodando os ouvidos, como vemos no início de "Below the Slumber"), uma dupla de guitarras que capricha em riffs e solos (e os duelos de solos são ótimos, onde a influência das escolas de KK Downing/Glenn Tipton e Adrian Smith/Dave Murray é sensível), baixo e bateria com boa técnica e peso evidente, e sua música soa como aquele Heavy/Speed Metal característico dos anos de 1983 a 1985, mas com uma banda que busca não ser um clone. E assim, “From Beyond” já apresenta uma banda bem mais evoluída e solta que em seu trabalho anterior, “Death by Fire”.

Enforcer
A produção sonora, apesar de ser feita com recursos modernos, soa bem orgânica e nada exagerada, mantendo o feeling que eles buscam para sua música (óbvio que falo dos anos 80), mas sendo mais limpa e clara do que a maioria das bandas da chamada NWOTHM (New Wave Of Traditional Heavy Metal) se propõem a fazer. Tudo que a banda se dispõe a tocar está bem evidente aos nossos ouvidos. A arte é simples, mas funcional.

Se por um lado o trabalho do grupo está distante de ser original, tem seus méritos por não ser apenas mais uma cópia de alguém, o que fica bem claro em seus arranjos muito bons, uma dinâmica musical bem feita e nada forçada, músicas não tão complicadas tecnicamente, mas uma verdade precisa ser dita: musicalmente, soa datado.

O CD já abre com a melhor faixa do disco e música do vídeo de divulgação, “Destroyer”, que é rápida e com ótimo refrão e riffs excelentes. Em “Undying Evil”, temos uma música de andamento em meio tempo, com boas vocalizações e base rítmica forte, fora mais um refrão que entra pelos ouvidos e não sai mais. Iniciada com guitarras à lá IRON MAIDEN, vem outra canção não tão veloz, a empolgante faixa-título, mais uma vez com melodias bem grudentas. “One With Fire” é uma faixa bem á lá NWOBHM, com energia e melodia bem equilibradas. Em “Below the Slumer”, temos uma faixa que oscila entre momentos de balada bem açucarados, e outros mais pesados, e com trabalhos de guitarras em dueto e contrabaixo muito bons. Segue-se com a instrumental “Hungry They Will Come”, que não chega a acrescentar muita coisa, verdade seja dita, e depois vem uma faixa que fica entre o Hard Rock clássico e o Heavy Metal tradicional, a mais acessível e empolgante “The Banshee”, mais uma com refrão de fácil assimilação e belo trabalho de baixo. Em “Farewell”, temos 1:10 de uma introdução instrumental de balada (que poderia ser mais curta, digamos de passagem), até ganhar peso e virar uma canção que remete diretamente ao que a querida Donzela de Ferro fez na época de “Killers”. A adrenalina torna a atingir níveis elevados em “Hell Will Follow”, onde a velocidade mais uma vez é a tônica da música (embora existam momentos mais cadenciados bem ganchudos nela), apresentando riffs muito bons. O CD fecha com “Mask of Red Death”, outra com andamento não tão veloz, com fortes doses de peso e melodia associados, além de um trabalho de guitarras primoroso.

O ENFORCER pode até não estar entre os melhores nomes dos dias de hoje pelo fator de não serem inovadores (e o Metal precisa de inovação sempre, para continuar sobrevivendo), não se pode deixar de reconhecer seus méritos como uma banda que, apesar do uso de clichês, é ótima e não é um zumbi se decompondo fora de seu túmulo.

Um disco muito bom, verdade seja dita.



Músicas:

01. Destroyer
02. Undying Evil
03. From Beyond 
04. One with Fire 
05. Below the Slumber 
06. Hungry They Will Come 
07. The Banshee 
08. Farewell 
09. Hell Will Follow 
10. Mask of Red Death


Banda:

Olof Wikstrand – Vocais, guitarras
Joseph Tholl – Guitarras 
Tobias Lindqvist – Baixo 
Jonas Wikstrand – Bateria 


Contatos:

Facebook (página oficial do Brasil)

Carach Angren – This is Not a Fairytale (CD)

Nota 10,0/10,0

Por Marcos "Big Daddy" Garcia


O Metal nos últimos anos está mostrando que novas possibilidades sonoras apontam para uma mudança de modelo no todo. A diversidade, multiplicação de novas vertentes, a utilização de novos recursos mostram que o paradigma atual irá mudar, pode ser hoje, amanhã ou mesmo em alguns poucos anos, mas é uma coisa boa. É sinal que o estilo está vivo. E um exemplo bem evidente dessa mudança está em bandas novas ou jovens que se recusam a seguir padrões já estabelecidos e ousam criar para si personalidades fortes e marcantes, como o holandês CARACH ANGREN. Sim, esse excepcional trio já anda causando muito alvoroço no underground do Metal extremo, e que está se agigantando cada vez mais, acaba de soltar mais uma pérola preciosa em forma de música, que tem por nome “This is Not a Fairytale”.

É preciso estabelecer que o trio faz o que convencionou-se como Symphonic Black Metal, mas tenham cuidado: o CARACH ANGREN não copia outras bandas, justamente pela sabedoria nos arranjos musicais, já que os teclados não fazem apenas fundo ou orquestrações sinistras. Eles são uma parte essencial da dinâmica musical do conjunto, com linhas bem próprias (e isso é uma marca do trabalho da banda). Os vocais nesse disco ganharam uma maior diversidade de timbres, permitindo que as músicas ganhem sutilezas antes ausentes. Os riffs de guitarra continuam técnicos, cortantes e ótimos, agora com um pouco mais de melodias. Baixo e bateria que sempre foram técnicos, agora levam isso a outro patamar, mas sem deixar a música da banda soar oca ou sem peso. E mesmo com tudo isso, o trabalho da banda soa coeso como um todo, forte, elegante, muito pesado, com personalidade e energia aos borbotões. 

O grupo reuniu um time dos sonhos para cuidar da produção. Uma vez mais, Patrick Damiani está na produção (é o mesmo que produziu todos os álbuns da banda até hoje), mais a mão de Peter Tägtgren na mixagem e Jonas Kjellgren. E não erraram na escolha, pois “This is Not a Fairytale” está um passo adiante de seus outros discos em termos de sonoridade: pesado, climático e sinistro, mas bem claro aos ouvidos, nos possibilitando compreender tudo o que a banda faz. Em termos de arte, o trabalho de Erik Wijnands e Pedro Ortiz IV é de cair o queixo, belo, sinistro e refletindo bem a proposta musical/lírica do grupo.

Carach Angren
O diferencial do CARACH ANGREN é justamente a beleza e diversidade de arranjos musicais. As músicas possuem forte clima teatral, e cada arranjo nos ajuda a compreender o que eles querem dizer nas letras sem problemas. Ou seja: estamos lidando com uma banda que é inteligente e espontânea. E nem falamos nos músicos convidados, Patrick Damiani (sim, o produtor) no baixo e Nikos Mavridis (do Rome, uma banda de Folk/Industrial de Luxemburgo) no violino.

As letras, como uma tradição da banda, formam um conceito central interessante: a famosa estória dos Irmãos Grimm, Hansel e Gretel (que por aqui, chamamos de João e Maria), ganha uma roupagem sinistra e bem diferente do costumamos ver em filmes. 

O disco é perfeito, todas as músicas possuindo seu valor próprio. 

Após a introdução “Once upon a Time...”, temos a violenta e opressiva “There’s No Place Like Home”, com excelente trabalho de teclados e guitarras, e mais uma interpretação vocal antes ausente nos discos do trio, seguida pela preciosamente orquestrada “When Crows Tick on Windows”, com um andamento mais variado, cheia de ritmos quebrados, onde o clima teatral se torna ainda mais evidente. Em “Two Flies Flew into a Black Sugar Cobweb”, vemos uma pegada mais pesada e suja no início, e depois, ganha contornos mais melodiosos e sinistros. “Dreaming of a Nightmare in Eden” é uma faixa baseada em orquestrações e vocais, sendo bem sinistra e preparando o ouvinte para “Possessed by a Craft of Witchery”, que mixa peso e técnica com maestria, mas possuindo alguns momentos bem trabalhados que surpreenderão os fãs. O clima opressivo de terror é evidente em “Killed and Served by the Devil”, graças ao uso de orquestrações perfeitas e vocalizações muito bem pensadas em coma de uma base instrumental perfeita. Cadenciada e pavorosa é “The Witch Perished in Flames”, com muitas mudanças de ritmo (o que se vê nos momentos mais velozes que surgem vez ou outra) e orquestrações que se transformam juntamente com as guitarras, algo fabuloso, e uma marca registrada do CARACH ANGREN. O disco fecha com “Tragedy Ever After”, uma canção um pouco mais bruta e agressiva, mas permeada por belas orquestrações e alguns momentos mais climáticos. Mas se pegar a versão deluxe com bônus, tem uma versão orquestrada muito sinistra de “Dreaming of a Nightmare in Eden”.

Ótimo disco, que vai para o top 10 sem medo, pois são bandas como o CARACH ANGREN que trazem o futuro até nós.





Músicas:

01. Once upon a Time... 
02. There’s No Place like Home 
03. When Crows Tick on Windows
04. Two Flies Flew into a Black Sugar Cobweb 
05. Dreaming of a Nightmare in Eden 
06. Possessed by a Craft of Witchery 
07. Killed and Served by the Devil 
08. The Witch Perished in Flames 
09. Tragedy Ever After


Banda:

Seregor – Vocais, guitarras 
Ardek – Teclados, pianos, orquestrações, backing vocals 
Namtar – Bateria, percussão 


Contatos:

Facebook (Brasil)