9 de mar. de 2015

Iron Maiden – Powerslave (CD)

Emi Odeon

Por Marcos "Big Daddy" Garcia


Rever as raízes de vez em quando faz bem a qualquer um, e em um lapso de puro romantismo da parte deste autor, e também para dar uma atualizada na sessão de clássicos, foi escolhido justamente o primeiro álbum de Metal que tive: “Powerslave”, do IRON MAIDEN.

A primeira coisa que deve ser dita sobre a banda é que o estilo musical dela, aquele Metal tradicional cheio de energia e vigor, que surgiu para o mundo em “Iron Maiden”, foi apurado em “Killers” e “The Number of the Beast”, e que ganhou mais técnica e arranjos diversificados em “Piece of Mind”, estava no auge de sua forma. Podemos dizer que, até então, é o disco onde Bruce cantou melhor, preenchendo bem as canções e usando boas variações de timbres (vejam o espetacular trabalho de vocais em “Rime of the Ancient Mariner”); as guitarras de Dave Murray e Adrian Smith estavam entrosadas, em um nível que poucas duplas de guitarristas estavam até então, explorando o máximo de cada um em riffs e solos (e um dos traços mais importantes da banda: os solos de Dave e Adrian possuem estilos tão diferentes que é possível distingui-los, mesmo para leigos no tocante a tocar guitarra); Nicko McBrain estava mais à vontade na bateria, mostrando técnica e peso absurdos, conduzindo os andamentos complexos da banda. E falar de Steve Harris chega a ser desnecessário: sua forma de tocar baixo é completamente diferente de todos os seus contemporâneos, a ponto de influenciar as gerações futuras. Pode ser que isso seja um reflexo de “Powerslave” ser o primeiro disco em que a formação da banda é a mesma do anterior.

Pela segunda vez, a banda foi gravar o disco no Compass Point Studios, em Nassau, nas Bahamas, e mixado no Electric Lady Studios, em Nova York, entre fevereiro e junho de 1984, sob a tutela de Martin Birch, produtor da banda desde “Killers” e que já havia trabalhado com BLACK SABBATH, DEEP PURPLE, RAINBOW, WISHBONE ASH, BLUE OYSTER CULT (e quase produziu “Iron Maiden”. Basta lerem na biografia “Run to the Hills” e entenderão o que digo/escrevo), e com masterização de George Marino. A sonoridade é robusta e refinada, que tem peso e clareza enormes e nas mesmas proporções, e o som de cada instrumento está bem evidenciado, conforme a personalidade da banda, lembrando que o IRON MAIDEN sempre teve uma sonoridade diferente, com o baixo bem evidente.

A arte é mais um lindo trabalho de Derek Riggs, artista que desenhou todas as capas e fez design de camisetas com Eddie por muitos anos. Só que na capa e contracapa de "Powerslave", ele exagerou muito nos detalhes, sendo de uma riqueza que só seria batida em "Somewhere in Time". Mas há espaço para algumas gracinhas, se repararem bem.

Falar nas composições de “Powerslave” é assunto polêmico: muitos críticos falam na flutuação de qualidade das músicas, mas mesmo assim, estas possuem uma qualidade que poucas bandas na época ousavam ter. E é talvez o disco mais democrático do grupo, já que existem músicas de Adrian e Bruce se destacando. Inclusive o tema principal é de uma música de Bruce (que mostra a fascinação do cantor por Egiptologia e Arqueologia).

E verdade seja dita: em termos musicais e de arranjos, a Donzela era imbatível.

O disco abre com “Aces High”, um de seus maiores sucessos, com o baixo de Steve ditando as regras e um belo trabalho das guitarras de Adrian e Dave, fora um refrão que todo fã que se preze já cantou com a banda (e que só faltou ter a introdução “Churchill’s Speech”, presente no clip e usada nos shows), seguida de outro clássico, “Two Minutes for Midnight”, mais uma vez com Adrian e Dave se destacando, com um riff inicial marcante e solos fantásticos, e mais um refrão excelente. Uma das canções mais criticadas do disco na época é “Losfer Words (Big ‘Orra)”, uma instrumental, recurso que o grupo não usava desde “Killers”, que nos permite ver bem como as linhas instrumentais da banda são ótimas e coesas, onde vemos a força de Nicko e Steve na base rítmica. “Flash of the Blade” é outra canção considerada mediana, mas a interpretação de Bruce é ótima, e “The Duellists” é uma música que merece mais respeito, pois é grandiosa e mais agressiva, bastando ver o trabalho de guitarras e baixo para ficar de queixo caído, e a bateria é incessante, com mudanças rítmicas incríveis. Ambas retratam a paixão de Bruce por esgrima. Outra faixa que foi alvo de críticas negativas é “Back in the Village”, mas se percebe certa similaridade das guitarras com algo mais moderno na época, fora os vocais estarem ótimo. Introduzida por sons que nos lembram as sombrias câmaras mortuárias dos faraós, vem “Powerslave”, mais arrastada, climática e densa, outra com refrão fenomenal e mudanças de ritmo absurdas, com guitarras fenomenais. E falar de “Rime of the Ancient Mariner” e seus mais de 13 minutos de duração é desnecessário, pois talvez seja o maior clássico da banda, onde todas as mudanças de ritmo e momentos permitem que cada um dos componentes se destaque. Arranjos fenomenais de Steve, Dave e Adrian em todos os momentos (seja nos mais velozes, mais amenos ou mesmo os mais introspectivos), Nicko arrasa e Bruce dá aula de interpretação, imortalizando o conto de Samuel Taylor Coleridge em forma musical, inclusive com citações direto da obra literária. 

“Powerslave” é o disco que afirma o IRON MAIDEN como o maior nome do Metal de sua geração, e desencadeou a “World Slavery Tour” (que 187 shows em 331 dias), levando a banda a ir onde ninguém havia ido antes, como os shows atrás da Cortina de Ferro (os países que viviam ainda sob o regime socialista/comunista, como Iugoslávia, Hungria e Polônia, que nunca haviam visto uma banda de Heavy Metal pisar em seus solos antes), e sendo sua apresentação mais importante a histórica noite de 11 de janeiro de 1985, a primeira noite do Rock in Rio. Digo que é a mais importante porque os jovens da época, ao verem a Donzela em seu auge, acabaram entrando na cena e ficando, permitindo que esta, enfim, pudesse ter mais expressão e abraçar as bandas daqui e de fora. Foi um divisor de águas para todos nós, veteranos.

Para a apreciação de todos os leitores, alguns breves comentários sobre as letras mais relevantes, mostrando a força do aspecto cultural do grupo.

* “Churchill’s Speech” é o discurso “We Shall Fight on the Beaches” do então Primeiro Ministro Wiston Churchill, proferido na Câmara dos Comuns do Reino Unido (a câmara baixa do Parlamento do Reino Unido) em 04/06/1940, poucos dias após assumir o posto em 10/05/1940, em uma reação contra a Alemanha de Hitler.

* Em “Aces High”, o tema da canção é referente à Batalha da Grã-Bretanha, travada entre as forças aéreas da Alemanha nazista (Luftwaffe) e a força aérea britânica (Royal Air Force, conhecida pela sigla R.A.F.), que durou de 10 de julho a 31 de outubro de 1940 (ou seja, três meses e três semanas). Devido ao número pequeno de Spitfires bem menor que o de Stukas que Churchill viria a dizer a famosa frase “nunca tantos deveram tanto a tão poucos”.

* Em “Two Minutes do Midnight”, e as letras evocam o Relógio do Dia Final, um dispositivo simbólico mantido pelo comitê de diretores do Bulletin of the Atomic Scientists da Universidade de Chicago. A proximidade da meia noite (a extinção do homem) indica o quão grande é risco do fim da raça humana, e a marcação de dois minutos para meia noite ocorreu em 09/1953, quando os EUA e a União Soviética fizeram os primeiros testes da bomba H. Foi o mais próximo que ele chegou de meia noite.

* Em “Rime of the Ancient Mariner”, as letras são uma descrição do poema de mesmo nome de Samuel Taylor Coleridge, escrito entre 1797 e 1798 (e publicado neste mesmo ano). A narrativa é sobre um velho marujo contando de uma longa viagem pelo mar para um homem que está indo a um casamento, narrando suas agruras e desgraças por ter matado um albatroz (que era um sinal de boa sorte para os marinheiros em geral na época), além de outros detalhes que merecem uma conferida no poema, que pode ser lido aqui.

E mesmo depois de tantos anos, “Powerslave” continua sendo uma experiência refrescante, maravilhosa de se ouvir e vivenciar. 





Músicas:

1. Aces High (Harris)
2. Two Minutes to Midnight (Smith, Dickinson)
3. Losfer Words (Big 'Orra) (Harris) 
4. Flash of the Blade (Dickinson)
5. The Duellists (Harris)
6. Back in the Village (Smith, Dickinson)
7. Powerslave (Dickinson)
8. Rime of the Ancient Mariner (Harris)


Banda: 

Bruce Dickinson – Vocais 
Dave Murray – Guitarras
Adrian Smith – Guitarras 
Steve Harris – Baixo 
Nicko McBrain – Bateria


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