17 de mai. de 2013

Tomando a Europa de Assalto – Entrevista com a banda SHADOWSIDE


Por Marcos Garcia


O SHADOWSIDE, desde que surgiu, sempre deu mostras de grande profissionalismo, ao mesmo tempo em que sua música mostrava que iriam longe. E após o lançamento do aclamado ‘Inner Monster Out’ e vários shows no Brasil, a banda arregaçou as mangas e foi para a Europa, abrindo a “Hellish Rock Tour part II", turnê que teve nada mais, nada menos que HELLOWEEN e GAMMA RAY.


Aproveitando a volta da banda, que descansa carregando pianos, já que se apresentarão ao lado do SUPREMA, no próximo dia 26 de maio, na Via Marquês, em São Paulo, com a ajuda prestimosa de Costábile Salzano da The Ultimate Music - PR, lá fomos nós bater um papo com Dani Nolden e saber de tudo que rolou na excursão, bem como as expectativas futuras do quarteto.

Metal Samsara: Oi, Dani. É um prazer imenso poder entrevistar você mais uma vez, ainda mais após esta tour pela Europa. Então, para começar, fale-nos um pouco de como foi esta tour: quantos shows em quantas cidades? E como foi a recepção ao grupo por lá?

Dani Nolden: O prazer é meu, obrigada por me receber novamente! A recepção foi maravilhosa! Uma longa séria de apresentações que passou por 18 países, pouco menos de dois meses, praticamente sem dias livres... na verdade, todos os dias livres foram dias de viagem. Só tivemos oportunidade de realmente descansar e fazer algum turismo durante dois dias em toda a turnê, e isso apenas porque o Helloween cancelou um show devido a uma doença do Andi Deris. Durante todo o resto do tempo, estávamos completamente focados na turnê, dormíamos em um país e acordávamos em outro, já praticamente na hora de começar o trabalho de montar os equipamentos, passar o som. O que torna essa rotina maluca sensacional é sempre o público. Foram shows incríveis e fica até difícil apontar apenas um ou dois, especialmente porque tocamos em vários lugares que nunca havíamos tocado antes e descobrimos que os fãs são completamente insanos, como na Bulgária e Republica Tcheca, outros onde tivemos surpresas pois esperávamos um público frio e encontramos fãs calorosos, cantando nossas músicas, como na Suécia, e países por onde já havíamos passado, sabíamos mais ou menos o que esperar e eles não nos decepcionaram, como na Romênia, Hungria, Itália... Foi uma experiência realmente positiva!


Metal Samsara: Sei que esta pergunta pode parecer tosca, mas chegaram a ter algum aborrecimento sério por lá, algo que realmente estraga o dia de qualquer pessoa, em termos de organização?

Dani Nolden: Não, nunca. O primeiro show foi o único onde alguns problemas de organização aconteceram, mas isso é natural quando as coisas estão começando. Estavam todos começando a fazer a rotina, então alguns atrasos nas passagens de som aconteceram, mas nada que pudesse comprometer o dia ou sequer o evento, que mesmo assim começou pontualmente. Não se cometem erros em uma turnê desse porte, toda a equipe trabalhando era extremamente profissionais e estava sempre preparada para sanar qualquer problema. Tudo é sempre muito organizado, os horários das passagens de som e dos shows estavam determinados antes mesmo de sairmos do Brasil, raramente havia alguma mudança no dia e quando havia, ela era comunicada com antecedência e nunca passava de meia hora de diferença. Todos os membros das equipes, tanto do Helloween quanto do Gamma Ray, foram muito fáceis de lidar e nos ajudaram muito durante a turnê.


Metal Samsara: Como as distâncias na Europa, muitas vezes são pequenas, chegaram a usar um tour bus? Se sim, essa experiência realmente é tão louca como tantas vezes pudemos ler em entrevistas e tour reports?

Dani Nolden: Sim, nós viajamos com um motorhome, que é como um tour bus, mas menor, para sete pessoas, até porque as distâncias não eram tão pequenas assim. Muitas vezes tínhamos um show no dia seguinte e tínhamos uma distância de 500, 600 km para viajar e em dias livres, não era raro termos viagens de mais de 1000 km. Em uma das ocasiões, fizemos mais de 2000 km em dois dias. Eu não sei se considero a experiência louca, pois o máximo que acontece lá é todo mundo passar o dia inteiro dormindo, pois não temos nada para fazer (risos). Não fazemos festas, bebedeiras, nada do tipo... Depois de um show, todo mundo está cansado e mesmo nas raras ocasiões que não estamos, sabemos que não podemos fazer loucuras pois temos um dia cheio no dia seguinte. Somos caretas nesse ponto, a prioridade é sempre o show e não podemos baixar o nível da apresentação. Porém só o fato de morarmos dentro de um ônibus durante dois meses... Comíamos na estrada, tomávamos banho nas casas de show e não tivemos uma rotina considerada normal durante todo esse tempo... Acho que isso já é louco o suficiente para as pessoas do “mundo real” (risos). 


Metal Samsara: Bem, foram quase dois meses na estrada com Gamma Ray e Helloween. Como foi conviver com os caras das bandas? Tiveram algum aborrecimento ou grande momento com eles que possa nos contar? E poderíamos dizer que, além de tudo, a tour serviu de algum aprendizado para vocês?

Dani Nolden: Eles são todos muito tranquilos, muito simples. Eles só querem que a banda de abertura não cause problemas e não seja formada por um bando de idiotas que querem brincar de rockstars... Eles querem pessoas com quem eles também possam conversar, contar e ouvir histórias. Eles estavam sempre curiosos com relação a história da banda, queriam saber sobre as nossas cidades natais, adoraram como chegamos com o motorhome inteiro, lindo, limpinho e terminamos a turnê com o pobre carro em um estado sofrível (risos). O maior momento foi a despedida... Não somos apenas nós que ficamos tristes por dizer adeus à pessoas legais que conhecemos. Apesar deles conhecerem bem o Brasil, eles não estão acostumados a conviver com brasileiros, com pessoas que estão sempre sorrindo o tempo todo, com gente que se preocupa e trata bem todos os membros da equipe, até aqueles que estão “apenas” montando o cenário. Alguns deles estavam lutando contra o choro no final (risos). Acolhemos o Dirk, baixista do Gamma Ray, quando ele estava passando mal em Paris... Ele havia comido alguma coisa que não caiu bem e estava vomitando, e o pessoal da banda dele o chutou do camarim pra ele não fazer sujeira por lá... Nós o vimos e convidamos pra sentar conosco, perguntamos se ele queria uma água... Desde então, ele sempre vinha sentar conosco, ficava olhando para nós conversando em português, sorria e falava “vocês são tão amigáveis!” (risos) Foi tudo realmente em paz, foi um clima de respeito em todos os sentidos, de todos os lados. Nunca tivemos um aborrecimento sequer, somos muito gratos a todos eles. Quanto ao aprendizado... Cada tour é um aprendizado, é claro! Essa turnê foi mais longa e mais cansativa que a anterior, portanto amadurecemos ainda mais pois temos que balancear a intensidade do show com a auto-preservação (risos). Temos que fazer um show com muita energia porém temos que saber até onde podemos ir sem ficarmos estragados para o show seguinte... e são muitos shows seguidos, com pouco descanso. Com os caras, pudemos perceber que estamos no caminho certo pois eles sempre nos contavam como foi exatamente isso que eles fizeram quando tinham nossa idade e estavam começando... eles abriam para outras bandas, viajando com pouco conforto e se dedicando a banda o tempo todo. Foi muito gratificante ouvir de alguns deles que estávamos muito perto de chegarmos onde queremos e que logo estaremos fazendo essa turnês sozinhos, como banda headliner. Escutar isso de músicos que foram suas influências é gratificante e mostra como realmente temos que ser pacientes, esforçados e acreditar que com muito trabalho, tudo que sonhamos quando éramos adolescentes está acontecendo.


Metal Samsara: Ricardo Piccoli saiu da banda ainda em 2012, e podemos dizer que, de certa forma, o Fabio (NR. Carito, baixista da banda) encarou um “batismo de fogo” em termos de shows no exterior? 

Dani Nolden: Sem dúvida! Uma turnê dessa faz alguém se apaixonar pela vida em uma banda ou faz a pessoa não querer tocar em bandas nunca mais! (risos) O Piccoli foi nos visitar na Inglaterra, pois ele saiu da banda justamente porque estava de mudança para a Europa, então ele foi ao show e conversou conosco... Ele nos disse que não quer mais saber de banda, a menos que seja uma banda que já seja enorme  para que ele possa viajar com conforto e ganhar dinheiro... Nada bobo (risos). Portanto, esse foi um teste para o Carito. Ele já havia feito uma turnê no Brasil conosco pelo Norte e Nordeste, porém, apesar de bem mais cansativa que uma turnê pela Europa, afinal no Brasil dormíamos em hotel, mas chegávamos lá por volta de 2, 3 da manhã e às 6 h já tínhamos que estar de pé para a próxima viagem, porém aqui ficamos apenas duas semanas na estrada e “ao lado” de casa, com fácil comunicação com nossas casas... E na Europa não sabíamos o que era uma casa, uma comida que gostamos, as pessoas queridas, nossa rotina a qual estamos acostumados durante quase dois meses. Muita gente desiste, não aguenta. Muitos músicos talentosos fazem uma turnê e percebem que não é isso que querem fazer da vida, voltam a tocar na noite, passam a tocar apenas localmente. Não é uma vida simples e ele aguentou muito bem. Após a tour, ele me disse “decidi que é isso mesmo que quero fazer da vida”, então estou contente! Não acho que teremos mais um baixista saindo da banda porque cansou da nossa vidinha complicada (risos).


Metal Samsara: Em geral, bandas de abertura não recebem muito apoio em nosso país. Nesse aspecto, a cena européia é parecida com a nossa, ou existem diferenças gritantes?

Dani Nolden: Eu acredito que depende muito da banda... Nós nunca tivemos problemas sendo a banda de abertura no Brasil. Sempre fomos muito bem recebidos pelo público brasileiro sendo banda de apoio, desde a primeira que fizemos, que foi com o Nightwish. Depois disso tocamos com tanta gente... Tocamos com Sepultura, o próprio Helloween, Iron Maiden e sempre tivemos uma recepção muito calorosa, com gente aplaudindo, interagindo conosco com palmas, gritos quando chamamos, cantando as músicas. No exterior é exatamente assim. Eu acho que a primeira reação do público com relação à bandas de abertura é sempre de “que saco, tenho que aguardar para ver minha banda favorita”, então é sempre algo que a banda precisa saber lidar. É claro que todo mundo quer ver a banda pela qual elas pagaram para ver... então precisamos convencê-los de nós valemos o tempo deles. É um desafio necessário na carreira de qualquer banda. Se você não consegue aquecer uma plateia como banda de abertura, não vai conseguir fazer um show interessante como headliner também. Eu interpreto essa falta de apoio inicial como algo bom, como um público exigente que quer ver qualidade e não vai apoiar antes de conferir ao vivo se a coisa realmente presta. O público tem que apoiar o que é legal, mas também temos que fazer por merecer esse apoio, sempre.


Metal Samsara: Uma curiosidade: como ‘Angel With Horns’ foi a música de trabalho de ‘Inner Monster Out’, pois é bem empolgante e contagia os ouvintes, ela deve ter sido cantada quase em uníssono pelo público, certo?

Dani Nolden: Sim, ela foi uma das músicas mais aguardadas do nosso show, por isso a deixávamos para o final (risos). Uma das coisas mais interessantes sobre 'Angel With Horns' é que as pessoas sempre acompanhavam o riff inicial com palmas, porém eu não estava chamando o público para isso... Então eu passei quase toda a tour achando que era o Carito quem os chamava para as palmas e eles o seguiam... Porém, um dia fiquei curiosa e olhei para o lado para ver se era isso mesmo... E para minha surpresa, ninguém da banda estava chamando... Eles estavam acompanhando com palmas porque queriam e isso não aconteceu em apenas um show ou dois... Foi unânime, não tivemos um show dos 36 onde as pessoas não acompanharam voluntariamente com palmas o riff de 'Angel With Horns', foi algo muito legal, os fãs estavam interagindo conosco livremente, por estarem contagiados pela música, era sempre um momento especial para mim. Ela grudou tanto na cabeça das pessoas que até nossos técnicos de PA e iluminação ficavam cantarolando a melodia do refrão nos bastidores (risos). Gosto muito de cantar essa música ao vivo, a energia do público nela é maravilhosa!


Metal Samsara: E o assédio do público a vocês? Foi muito intenso?

Dani Nolden: Sim, porém sempre com muito respeito. Eles queriam fotos, autógrafos, raramente tivemos problemas e qualquer tumulto era sempre resolvido de forma muito rápida pela segurança local, nunca chegava até nós. O que chegava eram apenas pessoas simpáticas que queriam uma lembrança com a banda e nós atendemos esses fãs com o maior prazer. Não deixávamos a casa antes de falarmos com toda a fila de pessoas que queriam falar conosco. Algumas que não sabiam que estaríamos no stand de merchandising após o show nos esperavam fora da casa, muitas vezes no frio... não tem como dizer não para essas pessoas. É algo cruel dizer não para um fã que quer 30 segundos da sua atenção... você não vai ficar doente porque passou alguns segundos a mais no frio para bater uma foto, nem vai se atrasar para o próximo show por causa disso. Eles sabem que a banda tem que ir embora e normalmente já estão com a câmera na mão, se juntam para todo mundo fazer a foto ao mesmo tempo... É um público acostumado a turnês e que entende a rotina de uma banda. 


Metal Samsara: Vocês mal acabam de retornar e já estão com um show marcado para 26 de maio no Via Marquês, junto com o SupreMa. O que espera nesse reencontro com o público brasileiro?

Dani Nolden: Vai ser uma ocasião especial por tantos motivos! É nosso reencontro com o Brasil, nosso reencontro com a cidade de São Paulo, que nunca teve um show realmente completo do SHADOWSIDE e temos algumas surpresas planejadas com os nossos amigos do SupreMa, além de músicas no nosso set list que não tocamos há anos! Estou muito ansiosa e acredito que o público também, será uma festa sensacional! 


Metal Samsara: Dani, sabemos que ainda é cedo, mas já existem planos para o sucessor de ‘Inner Monster Out’, uma vez que o sucesso de vocês dentro e fora do Brasil já é uma realidade?

Dani Nolden: Sim, temos planos de começar a trabalhar no álbum no final de 2013 e talvez começar a gravá-lo no meio de 2014. Ainda queremos fazer mais alguns shows no Brasil e é possível que tenhamos alguns shows na América do Norte ainda este ano, portanto ainda não fechamos o ciclo do 'Inner Monster Out'. Quando acabarmos a turnê, começaremos a compor novamente e não vamos apressar o processo. Queremos um álbum ainda melhor que o 'Inner Monster Out'!


Metal Samsara: Agradecemos muito pela atenção, e deixamos o espaço para suas considerações e mensagem aos fãs.

Dani Nolden: Muito obrigada pelo espaço, pelo apoio, espero vê-los em algum show ainda este ano! Fiquem ligados na nossa agenda no site oficial pois não repetirmos mais cidades. Estamos anunciando mais algumas apresentações, como essa de São Paulo dia 26 de Maio, Manaus dia 8 de Junho, então estejam lá e fiquem atentos para quando tocaremos na sua região pois não os veremos de novo antes da próxima turnê, o que deve demorar mais um ou dois anos, talvez mais. Grande abraço a todos!

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