1 de out. de 2012

Trabalhando em Uma Revista – Entrevista com Ricardo Batalha



Por Marcos Garcia

Muitos compram revistas físicas para manterem-se informados e ler entrevistas, mas bem poucos sabem o quão difícil é trabalhar em uma publicação de Rock pesado no Brasil. O Metal Samsara, tendo a responsabilidade de fugir do convencional, informar sobre o universo do Heavy Metal que muitas vezes não estão acessíveis, bem como para formar opinião, aproveitou uma deixa no tempo do amigo e irmão Ricardo Batalha, conhecido 'The Flash', editor-chefe da conceituada revista Roadie Crew, e bateu um papo sobre como é o dia a dia na revista. Além disso, ouvimos um pouco de quem já tem longa experiência no assunto.

Apresentando evento em SP
Metal Samsara: Primeiro de tudo, agradecemos demais pela oportunidade que nos concede, e vamos começar com uma pergunta bem quente: conte para nós um pouco de sua experiência de vida no tocante à imprensa, antes e agora, já como um dos homens de frente da Roadie Crew. Como começou, e como entrou nessa vida?

Ricardo Batalha: Eu vivo disso e para isso, então eu que agradeço ao Metal Samsara. Bem, a palavra-chave de tudo é interesse. Desde que comecei a ouvir Heavy Metal eu passei a buscar o máximo de informações em revistas, fanzines e livros. O interesse se transformou no sonho da minha vida, que era editar ou trabalhar em uma revista voltada ao estilo. Editei os fanzines Deathcore e Silent Rage, fiz colaborações em outras publicações mas não sabia que, anos depois, isto se tornaria a minha profissão. A Roadie Crew também iniciou como fanzine e a primeira edição saiu em agosto de 1994, na época da primeira edição do festival 'Monsters Of Rock'. Inicialmente aquilo tudo era hobby, mas as coisas foram acontecendo naturalmente até que, em maio de 1998, ela se tornou uma revista e, a partir da ed. 25 passou a ser publicada mensalmente. Foi, é, e sempre será muito difícil trabalhar com isso no Brasil.



Blind Ear com Max Cavalera
Metal Samsara: O dia a dia na revista deve ser algo realmente corrido, então, poderia nos contar de forma em simplificada (se é que é possível) como são as funções de cada um na revista? E como são administradas cada uma das seções dela?

Ricardo Batalha: As seções e matérias são definidas na reunião de pauta e depois falo diretamente com os colaboradores para ajudar na produção das seções e pesquisas. A troca diária de ideias ajuda muito! Bem, o trabalho é corrido, desgastante e estressante, mas todo mês a revista está nas bancas. (risos)



Metal Samsara: Seu apelido, ‘The Flash’, é bem conhecido no meio devido à sua agilidade e rapidez no lidar com matérias, sempre mantendo o site da revista atualizado, tanto que algumas pessoas já estão dizendo que o Marcos Garcia é seu discípulo (risos). Sabemos que a agilidade é importante, mas qual seria outra característica que você acredita ser importante junto a esta para poder trabalhar em uma revista?

Entrevistando Steven Adler
Ricardo Batalha: (risos) Não trabalhamos com horário como em um emprego normal, mas com prazos, e cada seção tem seu deadline definido antes. Esse negócio de ficar 'rodando lâmpada' (enrolando) e atrasando para a entrega das matérias no deadline atrapalha, mas é o preço que uma editora pequena paga por ter prestadores de serviços sem vínculo empregatício. Quem pensa que é tudo as mil maravilhas não faz a menor noção da dificuldade de se 'trabalhar com o que gosta'. A pessoa tem garimpar informações e fazer muitas pesquisas para as seções e matérias. Quem é ágil, interessado, focado e faz o trabalho com capricho, utilizando as normas de redação e os padrões de toques estabelecidos, tem chances de se dar bem.


Metal Samsara: A Roadie Crew é uma revista bem grande, conhecida e respeitada na cena, mas em geral, recebe algumas críticas e opiniões de bangers. Vocês chegam a ter acesso a tais opiniões? E como lidam com elas? Chegam a dar algum feedback sem que seja feito pela seção de cartas da revista?
Batalha e Rob Halford

Ricardo Batalha: Eu sempre fiz questão de manter contato direto com os bangers e leitores. Quando saio eu falo com todo mundo que me aborda e muitos dão sugestões, ideias e fazem pedidos bem legais, sendo que vários deles emplacam matérias boas. Quando não é possível realizá-los, também falo na hora e explico os motivos. E recebemos muitas críticas e elogios por e-mail, cartas e mídias sociais, mas uma coisa que muitos não entendem é que algumas pessoas criticam e falam objetivando a melhora da revista. Claro que existem exceções, como os que descem a lenha em tudo sem dó nem piedade. Mas você acha que vou ouvir quem, o negativista invejoso ou o de boa índole?


Metal Samsara: Com a internet, a aquisição de informação se tornou bem mais rápida, logo, as revistas, na visão de alguns, perderam um pouco de seu charme. É fácil esta competição que existe? Ou não chega a ser uma competição de fato?

Maloik
Ricardo Batalha: Não chega a ser competição e um pode completar o outro, mas a revista impressa ainda é forte, apesar do que muitos vêm apregoando há anos. Você falou que a informação é rápida, mas no caso do Metal/Rock ela vem sem apuração, sem capricho e sem seguir algumas regrinhas bem básicas do jornalismo.







Metal Samsara: Existem seções na Roadie Crew que são um pouco fora do comum, ou seja, estão fora do esquema resenhas de CDs, shows, entrevistas, como 'Classicover', 'Blind Ear', 'Roadie Collection', e outras. Como surgiram as ideias para elas? E como é organizá-las?

Batalha com o RAVEN
Ricardo Batalha: Primeiro, trabalhamos em uma publicação para leitores que se interessam por matérias em forma de perguntas e respostas, mas se a revista não tivesse seções eu concordaria com você no sentido de perder o seu 'charme' e ser engolida pela internet. As entrevistas são corriqueiras e sabemos que todo ano iremos entrevistar determinadas bandas/artistas. É justamente por isso que sempre pensamos em adicionar seções, como a 'Playlist', que vai estrear na edição #165. Também reformulamos o 'Roadie Profile' e temos planos de mudar mais algumas coisas mais para frente. Você citou o 'Blind Ear', e o legal da seção é que você tem o contato direto com o artista e sente a vibração dele no momento exato em que está ouvindo a música que colocamos. É isso que tentamos passar para o papel, depois. Ainda sobre as 'seções normais', por mais que digam que é desnecessária, a 'Releases' ainda é uma das mais comentadas e lidas por nossos leitores. Eu gosto de todas as seções e acho interessante, exceto pelo formato da seção 'Live Evil', com resenhas de shows, uma que cada vez mais deverá perder força na edição impressa. A quantidade de eventos rolando ao mesmo tempo no Brasil impede que coloquemos tudo e o site está ficando cada vez mais forte – por mim, tudo já estaria no site no dia seguinte. Já houve casos de termos mais de quinze páginas com resenhas de shows seguidas e daria para colocar várias bandas no lugar! Bem, vamos ver o que o futuro nos reserva quanto a isso, porque ser contra sozinho não adianta nada e somos uma equipe. Sempre fui contras as notas nas resenhas e elas estão aí até hoje, então não adianta apenas ser 'do contra'. (risos) Sobre a organização das seções, várias são sugestões e pedidos dos leitores e o autor da matéria é escolhido pela afinidade que tem com determinado estilo e/ou banda e artista.

Batalha e o BLACK SABBATH

Metal Samsara: Por falar nisso, vez por outra, a revista traz nomes novos entre os colaboradores, e muita gente ainda cria uma mística em cima disso, como o cara ganhando rios de dinheiro, entre outras. Qual é o trabalho deles de fato, e como eles são escolhidos? E já que falamos em dinheiro, como a revista reúne capital para se manter na ativa?

Palestrando sobre Heavy Metal
Ricardo Batalha: Nenhuma pessoa que trabalha com Metal no Brasil ganha rios de dinheiro. Na verdade, não ganha nem um conta gotas disso! (risos) Os colaboradores são escolhidos por competência e uma série de fatores que a editora analisa. Sobre o capital para se manter viva, a revista tem seus anunciantes e sem isso a editora não iria sobreviver somente da vendagem em bancas. Por sinal, hoje nem o próprio dono de uma banca de jornal não sobrevive apenas vendendo revistas, jornais, gibis e álbuns de figurinhas.







Metal Samsara: Bem, como em todo emprego que se preze, há sempre os benditos espinhos no caminho, e você tem cara de quem é um espinheiro de tantos (risos). Quais são os piores estresses de se trabalhar em uma equipe com backgrounds de vida tão diferentes? 

Ainda palestrando

Ricardo Batalha: Os piores são a falta de interesse, de comprometimento, de capricho e a lentidão. Quem está nessa só para ganhar ingresso de show e discos, esqueça. Sabemos que esse meio está cheio de 'porco-espinho', mas estes não terão futuro.











Metal Samsara: Na época do fracasso do M.O.A., tivemos a possibilidade de ver um belo texto de sua autoria na internet, que transpirava tristeza pelo ocorrido e solidariedade aos que lá estiveram. Na sua visão como membro respeitado da imprensa, o que deu errado na coisa?

Batalha e Katon de Pena (HIRAX)
Ricardo Batalha: Tudo, desde o começo. Aquilo foi um exemplo nítido de megalomania. Foram dar um passo maior que a perna e se tornaram medalhistas como 'João do Pulo do Metal'. Um evento que manchou o Brasil, mas se tornou referência do que não fazer de errado. Cheguei a dizer que o 'Metal Open Air' foi um exemplo caótico de que ainda estamos engatinhando e por isso eu gostaria muito que as pessoas parassem de pensar no 'dar jeitinho' e atuassem como profissionais.
Batalha com o SAXON (e a Roadie Crew na mão do homem)
Metal Samsara: Bem, você tem outras atividades paralelas, como a Brasil Express e o Maloik, certo? Como é ter que associar tanta coisa junta? E por favor, ser o 'The Flash' não implica que você pode estar em vários lugares ao mesmo tempo (risos).

Baterista
Ricardo Batalha: Além da Brasil Music Press/Assessoria de Imprensa, do programa Maloik, colaboro eventualmente para o Stay Heavy, Rock Forever, Heavy Nation, Sleevers e outros veículos. E vem mais coisa pela frente, aguarde! Bem, claro que não dá para estar em todos os lugares ao mesmo tempo, mas bem que eu queria. (risos) Sobre o trabalho, não se trata de um jogo de tênis, lutas marciais ou natação, pois você depende de uma equipe que trabalha para obter o resultado. E como bem estampa a obra de Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta, da Jovem Pan: 'Ninguém faz sucesso sozinho'.


Metal Samsara – A Roadie Crew já tem 15 anos de estrada, algo que não é para qualquer um, e você tem muito conhecimento de causa, então, quais as dicas que poderia dar para aqueles que começam hoje em dia?

No Heavy Nation

Ricardo Batalha: Estude muito, tenha interesse e seja comprometido. Aceite as críticas e tenha personalidade.


Batalha e Dee Snider
Metal Samsara: Batalha, agradecemos demais por sua gentileza em nos conceder esta entrevista, e deixamos o espaço para suas considerações finais e mensagem aos leitores.

Ricardo Batalha: Obrigado, estarei aqui sempre que precisarem. Quem quiser mandar sugestões e críticas, pode escrever para rbatalha@roadiecrew.com.


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