7 de jun. de 2012

Profissionalismo versus paixão – O gato de Schrödinger do Metal



Por Marcos Garcia


Quando se fala em Mecânica Quântica, a maioria das pessoas lembra logo de um gendaken (palavra alemã usada para escrever uma experiência mental, ou seja, um artifício muito usado para ilustrar problemas complexos cuja linguagem acadêmica o torna inviável aos não letrados no assunto) que já caiu no conhecimento popular: o famoso gato de Schrödinger.
O gendaken em si se baseia no seguinte: temos uma caixa fechada opaca (ou seja, não se pode ver o que está dentro), com um gato preso, um contador Geiger que está ligado a um martelo por meio de relés, e um vidro com veneno. Se o contador disparar, os relés funcionam, ativam o martelo, que quebrará o vidro e o gato morrerá. Se não, o gato continuará vivo.
O leitor logo dirá que basta abrir a caixa para saber o que está acontecendo dentro dela, mas aí ocorrerá um problema: fazendo isso, altera-se a probabilidade do gato estar vivo ou morto, ou seja, forçamos uma possibilidade, já que, na Mecânica Quântica, o observador faz parte do experimento, pois somente dele observar, ele já forçou o sistema observado a colapsar para um estado quântico.
Onde isso se liga ao Metal?
Simples: muitas críticas têm sido feitas à postura, muitas vezes apaixonada, dos críticos do estilo, com muitos clamando uma distância e imparcialidade que, em tese, poderia existir nos moldes europeus. Mas a distância vista entre eles não é uma premissa do profissionalismo, mas fator cultural do povo europeu, tanto que isso é sensível em várias situações nas vidas deles.
A crítica é válida?

Sim e não.
Realmente, é necessário saber que um disco é bom ou não independente do gosto de quem o analisa, e isso é ponto pacífico. Há bandas que possuem trabalhos sublimes dentro do que se propõem a fazer, outras não, mas isso independe do gosto pessoal de cada um, bem como existem bandas que são consagradas por certos aspectos para alguns que, para outros, não são válidos.
Um exemplo bem simples: Lulu, do Metallica, irritou alguns e satisfez a outros, mas isso se dá porque há diferenças de análise. Alguns críticos, que elogiaram o trabalho da banda (junto com Lou Reed, não nos esqueçamos disso), alegando ser uma banda corajosa e com ousadia suficiente para não se prender a padrões pré-estabelecidos; os que deram conotações negativas o fazem apoiados no que a banda já fez (nem sempre um bom parâmetro para este tipo de trabalho), bem como na falta de personalidade que o Metallica apresenta do Load para cá, já que cada disco apresenta algo estilisticamente distante do anterior, e algumas vezes, antenados com o que ocorre na cena Metal mundial. Mesmo os fãs mais apaixonados devem entender que isso é um fato.
Quem está errado nessa situação?
Nenhum dos dois lados, já que um crítico usa de seu background intelectual (que é único), e mesmo de sua opinião sobre esses aspectos em seu trabalho, de forma quase inconsciente. Ou seja, dentro disso está o Gato de Schrödinger, e se abrir a caixa, forçará um resultado a acontecer, porque uma coisa é fato: não existe imparcialidade se tratando de música, bem como de qualquer outra forma de arte.
O crítico está inserido nesse contexto, e como na Mecânica Quântica, ele não está isolado do experimento, e por mais distante que esteja, fará parte do processo, logo, ouvindo um disco, sua opinião será influenciada pelos seus sentimentos, porque a música está diretamente ligada aos sentidos humanos.
O crítico é, antes de tudo, um fã de música, e não um operário de fábrica.
Ainda é necessária uma maior compreensão de todos, bem como saber ouvir críticas, e quando as mesmas fazem sentido, assimilá-las, e melhorar nosso trabalho. Quando não, basta descartá-las sem maiores traumas.
A troca de experiências nos ajuda, e o isolamento em nossas opiniões e modelos, em geral, matará o gato na caixa...
Afinal de contas, somos todos humanos, e não senhores absolutos da verdade...

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